Hoje eu abri a clínica mais cedo. O ACM já estava na porta para o retorno, me esperando. Fez a maior festa, balançou o rabo, brincou, passeou pela clínica, "marcou" todas as paredes. E eu também fiquei muito feliz com a melhora dele. O proprietário relatou que ele estava melhor, achava que estava tristinho mas viu hoje que ele só precisa de mais atenção.
Depois dele eu fui alimentar o Romeu, que está internado desde sábado. Romeu é o bulldog que fez cirurgia de prolapso de uretra e voltou para casa. Infelizmente ele não ficou sondado e durante a cicatrização a sua uretra "fechou", o que chamamos de estenose. Tivemos que amputar cerca de 2 cm da glande e agora ele vai ficar internado por mais sete dias... sondado. Após a cirurgia, no sábado, ele já estava fazendo festa como se nada tivesse acontecido.
Depois dessa manhã agitada, parou um vectra na porta. Desceu uma senhora, a filha e uma bacia com três filhotinhos. Ela me contou que estava em uma fazenda no fim de semana e viu o vizinho querendo matar os três filhotes de cachorro, e ela prontamente quis salvá-los daquele final trágico. Para completar a caridade, trouxe os três para atendimento. Eu ouvi a história e me compadeci. Estava disposta a cobrar uma consulta ao invés de três, dar o que eu tivesse de amostra grátis para o caso e me esforçar para encontrar dono para os filhotes. Quando eu falei da minha intenção proprietária então disse:
- Ah, não, doutora, eu não quero pagar consulta, como eu disse para a senhora, estou atrás de uma caridade!!!
- Sim, minha senhora, a caridade que eu posso fazer é essa, atender os três pelo preço de um e ceder o que eu tiver de amostra para o caso. Afinal de contas, a gente faz caridade quando quer e quando pode e principalmente para quem não tem condição nenhuma de pagar.
- Para mim não interessa, vou procurar uma pessoa então que esteja disposta. Eu já vou ter que comprar remédio, não quero gastar com esses cachorros.
- Tudo bem, sem problemas, tenha um bom dia.
Vou falar um pouco de caridade. Quando eu quero pegar um animal na rua, tratar e procurar dono, eu estou fazendo uma caridade, às minhas custas. Quando eu vejo que o cliente não tem condições de pagar por um exame que eu vou fazer, ou por um medicamento, eu cubro o custo e ajudo o caso. Porém fazer caridade às custas dos outros é muito fácil. Eu não quero me sentir obrigada a fazer uma caridade para outra pessoa deitar a cabeça no travesseiro e dormir em paz. Eu amo a minha profissão e os animais, mas além de eu cuidar eu ensino o que é Posse Responsável. Que é o que eu tenho quando pego um animal para cuidar a assumo a responsabilidade por ele. Se a pessoa quer pegar três filhotinhos para cuidar, ela então que deve assumir os custos para dormir com a consciência limpa.
É a mesma coisa de eu chegar em uma padaria e falar:
Caridade SIM, mas posse responsável em primeiro lugar.
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