sábado, 28 de fevereiro de 2009

O Fiel


Hoje eu recebi uma ligação no consultório, era um cliente que queria saber de algum lugar que hospedasse cães, que ele estava se mudando para um apartamento e não poderia mais manter seu cão de 12 anos. Queria manter em algum lugar, como um asilo. Isso me fez pensar e me entristeceu. Comecei a imaginar quantas vezes esse dono chegou em casa e teve seu cão à sua espera. Saudoso. Festivo.

Aos 16 anos o meu avô me apresentou um poeta português, chamado Guerra Junqueiro. Tinha uma poesia com linguajar rebuscado, muitas palavras desconhecidas que contava a história de um cão. A essência do cão é bem traçada nesse texto, que eu transcrevo agora.

A última vez que a li, foi em um sarau, não consegui terminar, de tanto chorar. Dessa vez eu decidi procurar na internet, para colar aqui, pois não conseguiria transcrever digitando, sem passar três dias chorando e desidratada no final. Mas mesmo assim não adiantou, pois no último parágrafo colado e formatado, eu já estava aos prantos. Aproveitem.. o Fiel

Fiel

Guerra Junqueiro

Na luz do seu olhar tão lânguido, tão doce,
Havia o que quer que fosse
D’um íntimo desgosto :
Era um cão ordinário, um pobre cão vadio
Que não tinha coleira e não pagava imposto.
Acostumado ao vento e acostumado ao frio,
Percorria de noite os bairros da miséria
À busca dum jantar.

E ao ver surgir da lua a palidez etérea,
O velho cão uivava uma canção funérea,
Triste como a tristeza ossiânica do mar.
Quando a chuva era grande e o frio inclemente,
Ele ia-se abrigar às vezes nos portais ;
E mandando-o partir, partia humildemente,
Com a resignação nos olhos virginais.
Era tranquilo e bom como as pombinhas mansas ;
Nunca ladrou dum pobre à capa esfarrapada :
E, como não mordia as tímidas crianças,
As crianças então corriam-no a pedrada.

Uma vez casualmente, um mísero pintor
Um boémio, um sonhador,
Encontrara na rua o solitário cão ;
O artista era uma alma heróica e desgraçada,
Vivendo numa escura e pobre água furtada,
Onde sobrava o génio e onde faltava o pão.
Era desses que têm o rubro amor da glória,
O grande amor fatal,
Que umas vezes conduz às pompas da vitória,
E que outras vezes leva ao quarto do hospital.

E ao ver por sobre o lodo o magro cão plebeu,
Disse-lhe : - "O teu destino é quase igual ao meu :
Eu sou como tu és, um proletário roto,
Sem família, sem mãe, sem casa, sem abrigo ;
E quem sabe se em ti, ó velho cão de esgoto,
Eu não irei achar o meu primeiro amigo !..."

No céu azul brilhava a lua etérea e calma ;
E do rafeiro vil no misterioso olhar
Via-se o desespero e ânsia d’uma alma,
Que está encarcerada, e sem poder falar.
O artista soube ler naquele olhar em brasa
A eloquente mudez dum grande coração ;
E disse-lhe : - "Fiel, partamos para casa :
Tu és o meu amigo, e eu sou o teu irmão. -"

E viveram depois assim por longos anos,
Companheiros leais, heróicos puritanos,
Dividindo igualmente as privações e as dores.
Quando o artista infeliz, exausto e miserável,
Sentia esmorecer o génio inquebrantável
Dos fortes lutadores ;
Quando até lhe acudiu às vezes a lembrança
Partir com uma bala a derradeira esp’rança,
Pôr um ponto final no seu destino atroz ;
Nesse instante do cão os olhos bons, serenos,
Murmura-lhe : - Eu sofro, e a gente sofre menos,
Quando se vê sofrer também alguém por nós.

Mas um dia a Fortuna, a deusa milionária,
Entrou-lhe pelo quarto, e disse alegremente :
"Um génio como tu, vivendo como um pária,
Agrilhoado da fome à lúgubre corrente !
Eu devia fazer-te há muito esta surpresa,
Eu devia ter vindo aqui p’ra te buscar ;
Mas moravas tão alto ! E digo-o com franqueza
Custava-me subir até ao sexto andar.
Acompanha-me ; a glória há de ajoelhar-te aos pés !..."
E foi ; e ao outro dia as bocas das Frinés
Abriram para ele um riso encantador ;
A glória deslumbrante iluminou-lhe a vida
Como bela alvorada esplêndida, nascida
A toques de clarim e a rufos de tambor !

Era feliz. O cão
Dormia na alcatifa à borda do seu leito,
E logo de manhã vinha beijar-lhe a mão,
Ganindo com um ar alegre e satisfeito.
Mas aí ! O dono ingrato, o ingrato companheiro,
Mergulhado em paixões, em gozos, em delícias,
Já pouco tolerava as festivas carícias
Do seu leal rafeiro.

Passou-se mais um tempo ; o cão, o desgraçado,
Já velho e no abandono,
Muitas vezes se viu batido e castigado
Pela simples razão de acompanhar seu dono.
Como andava nojento e lhe caíra o pelo,
Por fim o dono até sentia nojo ao vê-lo,
E mandava fechar-lhe a porta do salão.
Meteram-no depois num frio quarto escuro,
E davam-lhe a jantar um osso branco e duro,
Cuja carne servira aos dentes d’outro cão.

E ele era como um roto, ignóbil assassino,
Condenado à enxovia, aos ferros, às galés :
Se se punha a ganir, chorando o seu destino,
Os criados brutais davam-lhe pontapés.
Corroera-lhe o corpo a negra lepra infame.
Quando exibia ao sol as podridões obscenas,
Poisava-lhe no dorso o causticante enxame
Das moscas das gangrenas.

Até que um dia, enfim, sentindo-se morrer,
Disse "Não morrerei ainda sem o ver ;
A seus pés quero dar meu último gemido..."
Meteu-se-lhe no quarto, assim como um bandido.
E o artista ao entrar viu o rafeiro imundo,
E bradou com violência :
"Ainda por aqui o sórdido animal !
É preciso acabar com tanta impertinência,
Que esta besta está podre, e vai cheirando mal !"
E, pousando-lhe a mão cariciosamente,
Disse-lhe com um ar de muito bom amigo :
"Ó meu pobre Fiel, tão velho e tão doente,
Ainda que te custe anda daí comigo."

E partiram os dois. Tudo estava deserto.
A noite era sombria ; o cais ficava perto ;
E o velho condenado, o pobre lazarento,
Cheio de imensas mágoas
Sentiu junto de si um pressentimento
O fundo soluçar monótono das águas.

Compreendeu enfim! Tinha chegado à beira
Da corrente. E o pintor,
Agarrando uma pedra atou-lh’a na coleira,
Friamente cantando uma canção d’amor.

E o rafeiro sublime, impassível, sereno,
Lançava o grande olhar às negras trevas mudas
Com aquela amargura ideal do Nazareno
Recebendo na face o ósculo de Judas.
Dizia para si : "È o mesmo, pouco importa.
Cumprir o seu desejo é esse o meu dever :
Foi ele que me abriu um dia a sua porta :
Morrerei, se lhe dou com isso algum prazer.

Depois, subitamente

O artista arremessou o cão na água fria.
E ao dar-lhe o pontapé caiu-lhe na corrente
O gorro que trazia
Era uma saudosa, adorada lembrança
Outrora concedida
Pela mais caprichosa e mais gentil criança,
Que amara, como se ama uma só vez na vida.

E ao recolher à casa ele exclamava irado :
"E por causa do cão perdi o meu tesouro !
Andava bem melhor se o tinha envenenado !
Maldito seja o cão! Dava montanhas d’oiro,
Dava a riqueza, a glória, a existência, o futuro,
Para tornar a ver o precioso objecto,
Doce recordação daquele amor tão puro."
E deitou-se nervoso, alucinado, inquieto.
Não podia dormir.
Até nascer da manhã o vivido clarão,
Sentiu bater à porta ! Ergueu-se e foi abrir.
Recuou cheio de espanto : era o Fiel, o cão,
Que voltava arquejante, exânime, encharcado,
A tremer e a uivar no último estertor,
Caindo-lhe da boca, ao tombar fulminado,
O gorro do pintor !



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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

CARNAVALLLLL

Eu estive ansiosa esperando o carnaval. Um fim de semana antes, eu e o Beto havíamos ido para Comandatuba, que é uma vilazinha perto de Ilhéus e ao lado da Ilha de Comandatuba, Hotel Transamérica. Mas não ficamos nesse hotel, é claro, fizemos coisas muito melhores.
Passeamos de lancha até a "boca da barra", Beto, mamãe e o pessoal pescaram, e eu dormi.

Depois fomos para a pousada, onde eu dormi mais. No outro dia, Beto foi pescar com todos e eu ... dormi. Depois fomos para casa, foi simplesmente perfeito. No outro fim de semana, era carnaval. E voltamos para Comandatuba. Ficamos na Pousada Real, uma gracinha. Excelente local para DORMIR.

Aproveitamos bastante, eu usei e abusei da cama. Beto, tal como final de semana anterior, não pegou nenhum peixe. Nessa pousada tinha uns coelhos soltos, cavando vários buracos pelo quintal, muito verde, tinha até pé de fruta pão. Inclusive pude testemunhar a queda de uma fruta pão no capô de um carro.
Além de dormir, eu adoro o café da manhã de pousada. Porque a gente pode comer e voltar a dormir. Sem problemas. No primeiro dia, domingo pela manhã, eu até sonhei que levantava e ia tomar o café da manhã. Levantamos umas 9 horas. No outro dia, na segunda feira, eu me superei, acordei o Beto às 6:30 para tomar café da manhã. Ainda falei que teríamos tudo fresquinho, e quentinho e... ausente. Isso mesmo, o café da manhã começava às 7 horas, ficamos esperando, com preguiça de ir para o quarto. Mas valeu a pena.

Tinha uma loja de artesanato ao lado da pousada. Com preços para hóspedes do Hotel Transamérica e quase as mesmas coisas que encontramos na feira de artesanato de Ilhéus, mas eu estava de turista... e lá fui eu. Já cheguei quebrando uma peça de barro que custava 77,00 reais.. MEU DEUS.... 77,00 reais são duas consultas e duas vermifugações... como eu pude quebrar o cabelo do boneco de barro? Beto quase morre de vergonha, a atendente disse que ia colar com super bonder, e que ficaria bem. Claro que para compensar eu comprei 200,00 em artesanato... presente para mamãe, para os filhos da Renata, para a prima, para o Beto e um acucareiro em forma de galinha e um chapéu para mim.

Na terça feira de carnaval eu já estava de volta, atendendo uma emergência, outro olho que resolveu sair da órbita, da Vida. Tal como o Lingo, o pinscher do post sobre minha primeira exoftalmia, mas a Vida, a Yorkshire da Terça feira de carnaval, acabou perdendo um olho. Isso é o que dá um cão de 1,5 kg disputar por uma bola com uma boxer de 30 kg.

Não assisti escola de samba, não sambei, não pulei carnaval na rua, e até trabalhei. Mas o meu carnaval foi exatamente o que eu precisava.

PS: vou anexar o link da foto do olho da Vida antes da cirurgia, para os curiosos.



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terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O dia seguinte...

No outro dia eu acordei triste, pensando na gata. Consegui reunir uma força tarefa para vasculhar o terreno em busca de Raquele.
Ao chegar na clínica vieram me falar que a "mamãe" da Raquele havia ligado pedindo que não fôssemos atrás da gata pois estávamos assustando a mesma.
Ahhh, eu pensei, deixa pra lá, ela que se vire então.
Mas eu já estava com a roupa mais velha que achei (e que coubesse em mim), bota sete léguas, boné, facão afiado... claro que eu me embrenhei novamente no mato.
Ao sair da clínica veio um rapaz que havia levado o cachorro para atendimento, oferecendo ajuda para buscar a gata. Eu não neguei, é claro, mas ele estava de chinelo e bermuda. Eu avisei: olha, o mato lá é alto e tem cansanção!!
- Não se preocupe, doutora, eu sou de roça!!
Mas ao entrarmos no terreno eu pude ver pelas suas feições que ele nunca havia visto tal mato. Nos dividimos, Denys foi por um lado, o Alex (o cliente) por outro, e eu e Nancy pelo caminho mais fácil e na sombra, claro.

Às vezes o Alex passava por nós, se coçando: Olha, bem que você disse que tinha cansanção!
Depois de 1 hora nós já tínhamos nos reunido debaixo do abacateiro, chupamos duas canas, catamos 10 abacates, tiramos fotos e brincamos de "no limite" e "lost"..
Raquele???
bom, se ela nos viu, não quis aparecer.
Resolveu aparecer durante a noite, quando come a comida que deixamos ao lado da clínica e some de novo.
Sua dona esteve mais umas duas vezes nos visitando. Estamos de tocaia para resgatar Raquele, que tem vivido dias de aventura, e quando cansar, ela aparece.
Eu estou aqui, alerta, procurando, tomando antinflamatório, antibiótico e antihistamínico para as feridas do cansanção.


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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O dia que Raquele sumiu!

Quando a gente lida com animais, todo cuidado é pouco. É como uma criança que "cega" a gente. Há alguns dias eu fui fazer uma consulta, de uma gata, a Raquele. A dona chegou dizendo que queria fazer uma consulta oftamológica, que a gata estava com um "probleminha" nos olhos... e colocou a caixa de transporte em cima da mesa de atendimento. Então eu coloquei a caixa em cima de uma cadeira e disse: vamos fazer a ficha primeiro!
É basicamente isso, fazemos a ficha, fechamos a sala toda, colocamos o gato em cima da mesa e examinamos, depois guardamos o gato na caixa, abrimos a sala para não morrermos de calor e finalizamos a consulta...
Quando eu fui ver, a proprietária já tinha tirado a gata da caixa, querendo dar água para ela, e eu dizendo que ainda íamos fazer a ficha de atendimento,que ela tivesse paciência..
- Cadê minha gata?
Quando eu olhei, a Raquele estava na janela já ganhando sua liberdade, para nosso desespero.
Saí da clínica, gritei Denys, que largou o cachorro meio tosado, e fomos correndo atrás da gata...
A proprietária gritava, "Quelinha... fique parada" e a gata corria como louca em direção ao muro...
Quando ela subiu no muro, parou para pensar, e eu falando bem baixo: vamos fazer silêncio e chegar devagar...
"QUELINHAAAAAAAA"
"SHHHHHHHHHHHHHHHH... vamos fazer silêncio, senhora"
"QUELINHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA"
"Ah meu Deus,.. corre Denys, pega lá"
Mas antes dele agarrar a gata, ela já tinha pulado para o terreno ao lado.
O terreno do lado tem o tamanho de um estádio de futebol, está abandonado há 20 anos e toda mata atlântica já foi reestabelecida.
Para entrar lá só com facão, bota 7 léguas e sorte.

Nesse dia, Denys e eu passamos seis horas procurando a gata. A dona estava aborrecida, falou um monte de coisa para os estagiários sobre a sala não estar fechada quando ela teve a infeliz idéia de adiantar tudo e tirar a gata da caixa.
Eu entendo o aborrecimento dela, e ficaria muito triste se fosse minha gata. Se ela tivesse fugido das minhas mãos, do banho e tosa, eu ficaria muito aborrecida também. Mas só pelo fato da gata ter fugido antes da consulta, das mãos da dona, mas pela minha janela, me deixou preocupada e triste.
No final desse dia, a gente havia encontrado a gata nesse matagal seis vezes, e em nenhuma delas nós fomos capazes de capturá-la. Da única vez que Denys botou as mãos em Raquele, ela fez questão de deixar sua marca, para que ele nunca mais esquecesse.. e correu.

No final do dia, meus braços estavam arranhados e machucados por causa da cansanção, que é uma planta maldita, minha cara e meu colo vermelhos por causa do sol, minha tatuagem de gato queimada pela metade,fui para casa visivelmente exausta.

Beto ainda veio me dizer que eu deveria ter feito xixi em cima do braço para tratar as queimaduras de cansanção. Eu já saí de lá esgotada, arranhada, triste, arrasada, frustrada, e ele ainda queria que eu saísse mijada.
Essa história continua...

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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Bridgit & Eu



Ontem eu assisti Marley e Eu no cinema. Acreditem, só chegou ontem no cinema aqui no interior da Bahia, e nem foi na minha cidade, foi na vizinha. Eu já sabia que eu ia chorar, mas assisti do mesmo jeito. O filme conta uma história linda do relacionamento de uma família inteira com um cachorro. No final é claro que eu chorei muito, ainda saí do cinema com raiva da veterinária do Marley, de mim que fui assisti já sabendo que eu ia chorar, da sensação triste que a perda de um cachorro traz.
De fato, perder um parente é muito ruim, um amigo, um amor, mas perder um cachorro é bem diferente de perder uma pessoa. Não é pior ou mais brando, é diferente. É um sentimento de vazio que a gente não imagina que vai sentir com a perda do animal, do companheiro.
Todas as cenas do filme são especiais, ele mostra com fidelidade o que é ter um labrador, e a participação do cão na vida da família toda. O final do filme é esperado, e tanto o dono, narrador, como a família conseguem exprimir exatamente o que costumamos sentir na mesma situação.
Claro que eu pensei na Bridgit, minha fox paulisitinha, cheguei em casa e abracei muiro minha bichinha. Hoje eu resolvi filmar uma parte do nosso café da manhã..
E, aproveitando que o Beto trabalhou hoje o dia todo e não lê o meu blog e hoje de tarde ela dormiu comigo na cama :)
Esse filme me acrescentou um pouco de sentimento no tratar dos animais que passam na minha mão, não posso me apegar, de fato, mas posso entender o sentimento do dono, que depois de um tempo, nós, veterinários, costumamos esquecer...

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domingo, 1 de fevereiro de 2009

A paca!


Durante o projeto TVT eu conheci várias pessoas. Começando com os estagiários. A maioria do segundo semestre, todos bem dispostos, aprendendo e perguntando várias coisas. Metendo a mão na massa. Muitos foram desistindo aos poucos, alguns continuam firmes até hoje, mas sempre tivemos ajuda, desde o princípio.
- Dra Alice, esses cachorros que vieram do Centro de Zoonoses, vão voltar para lá
- (resposta malvada) sim, vamos tratar e devolver, lá eles serão eutanasiados e pronto!
- Ohhhhhhhhhhhh (todos param e me olham) que que é isso, Dra Alice, nãoooo, vamos fazer uma campanha, vamos arrumar dono para o Toquinho, a Sarita, o Giva... tadinhos...
- (risada baixinha eh eh eh) Bom, façam o que quiserem!!
No outro dia já tinha até foto para colocar em um cartaz... mas claro que encontramos donos para todos... estamos trabalhando nisso pelo menos, ehehehe, para o CCZ eles não voltam mesmo.
O relacionamento com os donos também é muito interessante. O Luciano levou pra a gente uma cadela dele que estava com o TVT, um cachorro do primo e um cachorro do vizinho. Todos com o Tumor, que ele mesmo diagnosticou. Ele sempre arruma motivo para nos visitar. Prometeu levar banana da roça para mim e os estagiários. Quando a minha orientadora estava no consultório, ele falou que ia levar caça, uma paca.. quem que gostava de paca?
- (minha orientadora estarrecida) Não, senhor, não, ninguém gosta de paca não!! (já pensando em caça ilegal.. ibama, etc)
quando eu falo, bem baixinho:
- eu gosto de paca!

Num instante Luciano ficou feliz, disse que ia trazer a paca, e eu:
- Não, Sr Luciano, paca não, banana mesmo, paca não pode... não traga não, por favor, vai me complicar.(enquanto recebia olhares aborrecidos de 'mamãe' - como chamamos carinhosamente a nossa orientadora)

Depois ainda tomei um sermãozinho, básico, sobre caça ilegal, e combinei com Sr. Luciano que esqueceríamos para sempre qualquer assunto sobre PACA. Mas que é gostoso, é!

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