terça-feira, 28 de setembro de 2010

Bem vindos ao mundo, e agora?

Escrever sobre cães com doença, procedência, raça e idade diferentes fez do Diário Veterinária meu cantinho preferido. No mês de outubro eu estou começando uma série de artigos que vão falar sobre a minha experiência com esses companheiros desde o nascimento. O objetivo será compartilhar histórias e orientar sobre as fases da vida do cãozinho, no que diz respeito aos cuidados do proprietário e clínico.
Não há melhor forma de começar como falando do nascimento.
Nessa semana nós fizemos mais uma cesárea. 
Paciente: canino, fêmea, teckel, cerca de 60 dias de gestação. Foi coberta para reprodução no intuito de venda dos filhotes.
Queixa: o proprietário não sabia qual era a data da cobertura, o animal não entrou em trabalho de parto, apresentava secreção vaginal há dois dias.
Nesse dia eu fui para a clínica, avaliei a paciente, fiz uma ultrassonografia. Os filhotes apresentavam bom desenvolvimento, batimentos cardíacos presentes e rítmicos (220 bpm), compatível com gestação a termo.
O que você, colega veterinário, deve fazer?
A pergunta do proprietário foi: Vai ou não fazer a cirurgia? Você que é o veterinário, deve dizer se deve ou não.
A minha pergunta foi: Você, que é o proprietário, e criador, quem deve me dizer quando ela cruzou.
Na ultrassonografia nós fazemos diversas medidas, avaliamos o desenvolvimento e condição dos fetos, aspecto geral, órgãos formados, e podemos predizer o tempo de gestação. Entretanto a estimativa vai variar de 2 a 5 dias. Sem contar que o tempo de gestação na cadela também varia de 57 a 65 dias, porque vai depender de quando houve a cobertura, o pico de LH (hormônio que vai estar em níveis elevados, levando à ovulação) e da viabilidade do sêmen, que pode "sobreviver" até 5 dias na fêmea. Então não depende somente do dia que ela cruzou mas sim do dia que ela ovulou.
Parto prematuro por um ou dois dias pode diminuir as chances de sobrevida dos filhotes. Problemas respiratórios, ausência dos cuidados da cadela e falta de produção do colostro são alguns aspectos que devem se considerados quando  decidir se é hora ou não de intervir. A secreção vaginal enegrecida que a cadela apresentou é evidência de separação placentária portanto, nesse momento, os batimentos dos filhotes e temperatura da mãe devem ser monitorados para decidir o melhor momento de operar.
COLEGA, NÃO REALIZE A CIRURGIA BASEADO NA ANSIEDADE DO PROPRIETÁRIO.
No segundo dia nós fizemos a cesareana.
Nasceram 6 filhotes com bom desenvolvimento e vivos.
 Filhotes com 1 hora de nascidos, sobre o colchão térmico para manutenção da temperatura
 Eu, os filhotes e o Dr Fábio, que auxiliou na cirurgia
 Eu (upando fotos), filhotes e a Dra Renata

Algumas cadelas podem rejeitar os filhotes depois de uma cesárea. Isso não é incomum, então, sempre devemos alertar os proprietários sobre essa possibilidade. Nesses casos deve-se então medicar a cadela para que deixe de produzir leite e ensinar os proprietários sobre os cuidados intensivos que os recém-nascidos requerem.
Mas isso é o assunto para o próximo artigo, Cuidados com o recém-nascido (órfão ou não).
Leia também:
Operando também?
Choque séptico
Um parto
E mais informação:
PHYSIOLOGY OF PREGNANCY AND ANESTHESIA FOR CESAREAN SECTION IN DOGS
Elective Cesarean Sections: Risks, Planning, and Timing


OBS: A cadela do caso tratado no artigo não só rejeitou como matou 5 filhotes quando foi para casa. O último filhote foi separado e será cuidado pelos proprietários.

Confiança no Veterinário

Hoje eu vi uma atualização no Facebook de um colega veterinário. Provavelmente estava em casa, descansando com a família quando um amigo apareceu para o atendimento do seu gato. Ele reclamava: "Ele se aproveita porque sabe meu endereço e vem aqui, isso não está certo, procure uma clínica de plantão."
Eu não sei o quanto eu estaria aborrecida com esse amigo também se eu tivesse relaxando em casa mas precisamos separar o que é confiança e o que é conveniência.
Tenho uma cliente que, durante outro plantão, foi atendida pela Renata. O atendimento foi o mais completo possível mas eu pedi que os retornos fossem comigo, e a Renata não se incomodou. A proprietária estava com aquele olhar de "Por que não é o seu plantão?", sempre dirigindo as perguntas a mim (que estava lá de passagem). Eu sei que ela  vai se sentir mais à vontade comigo, até conhecer o resto da equipe e passar a confiar também. O mesmo acontece com diversos clientes da Renata:
- Alô, por favor, Dra Renata se encontra?
- A Dra Renata não está de plantão, posso te ajudar?
- VOCÊ??? Não.. (risos) ... obrigada.

Não me sinto ofendida de forma alguma. Como clínica eu não entendia porque esse ou aquele cliente queria falar comigo, ser atendido por mim, mas hoje eu vejo de forma diferente... porque até eu só levo meus animais para o veterinário que eu confio.

Então eu postei uma mensagem privada para esse colega:
Meu amigo, isso não é folga, ele confia em você, e confiança é algo que demoramos para conquistar e perdemos em um segundo. Parabéns, continue fazendo o bom trabalho que você faz. 
E ele me respondeu:
Alice, você não é calma assim, estou te estranhando. Bjs

Então nasceu o  tweet: (@alicevet) me chamaram de calma, conformada, relaxada, centrada e sã. Eu to trabalhando demais, está afetando até o meu gênio.

Como eu sempre concluo as respostas no Formspring: Leve o animal no seu veterinário de confiança, e confie no seu veterinário.

Fonte da imagem


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Template do Blog

Na semana passada eu mudei o template do Diário Veterinária para um mais limpo, e provisório.
Até que o Rodrigo, o designer da clínica, e amigo pessoal, desenhe a nova imagem do blog e eu possa então criar o template definitivo.
Vou fazer uma camisa com a imagem também, para usar na Pet South America.
Por falar nisso, alguém vai?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Operando também?

Atendi um cãozinho, ele tinha 13 anos e estava com insuficiência renal aguda. Apesar do tratamento ele morreu em poucas horas. Para ser mais precisa ele deixou de sofrer em um sábado à noite, às 21 horas. Sendo o meu plantão, eu falei com o proprietário que o Kiko não havia resistido, e que eu sentia muito. E sentia mesmo. Foi uma semana difícil, muito trabalho, por mais que se dedique a gente sempre tem a impressão que deveria ter se dedicado mais. Não é fácil ser a Amélia, a mulher maravilha e no fim das contas ainda se sentir maravilhosa.
Não, o animal não morreu por falta de atendimento ou de dedicação do proprietário. Foi a doença que o matou, e a idade não ajudou na recuperação. Por mais que eu saiba disso, não é fácil terminar a semana assim.
No domingo, sem folga, eu fui para a clínica. Havia muito para terminar, prontuário para finalizar, e arrumar a clínica para mais uma semana.
Me telefonaram, havia uma cadela em trabalho de parto há 24 horas, sem sucesso. A cirurgiã da clínica estava viajando. Só estávamos eu e outro veterinário, que auxilia nas cirurgias. Eu disse: tudo bem!
Depois do exame físico a recomendação era a cesareana. Segundo a ultrassonografia havia dois filhotes, sendo um deles vivo. E na indução anestésica, foi tudo certo. Pronto, em um dia comum é até aí que eu vou, mas nesse dia eu precisava ir adiante.
Chamei o Fábio, que me ajudou na cirurgia. Beto estava lá para ajudar também, fez o papel de pediatra, mantendo o filhote aquecido enquanto operávamos. Então estávamos nós 20 na sala. Eu, Fábio, Beto, a cadela, o filhote, meu anjo da guarda, e os 14 anjos da guarda dela.
No domingo à noite eu estava com a cadela e o rebento em casa. Todos passando bem e passam bem até hoje.
Das mil formas que eu imaginei em começar essa semana, a última delas seria fazendo, com sucesso, minha primeira cesareana.



OBS: desculpem a cara de cansada,

domingo, 19 de setembro de 2010

Era uma vez um Boxer

Era uma vez um boxer que nasceu fraquinho. Ele era o menor da ninhada e seus irmãos não o deixavam mamar. Sobreviveu como pôde e no final do desmame os mais fortes foram embora, e ele morou com o papai e a mamãe. Difícil era a vida até então mas a ração ele já conseguia comer sem disputar.
Até que uma noite estava frio e ele dormiu embaixo daquele carro bem quentinho. No sono profundo ele não percebeu que o carro ia saindo até quando passou por cima dele acidentalmente. Os mestres do papai e da mamãe prontamente levaram o refuguinho para o doutor, que tratou de colocar as "peças" no lugar. Acharam que não fosse sobreviver e ele pensava "não, gente, ainda sou bebê, ainda tenho que brincar, ai ai ai... tá doendo... bola? isso é uma bola? ahhh, não consigo brincar agora, vou dormir, amanhã eu brinco". E decidiram chamá-lo Bolinha.
E o Bolinha cresceu. Não corria como os outros mas corria como podia. Brincava, o tempo todo que estava acordado, cheirava os cantos, as pessoas, as plantas... mas não mais os carros. Corria com uma cadência própria, meio de lado, como se mancasse e rebolasse mais que qualquer outro boxer.
Então um casal de mestres resolveu levá-lo para outra casa. Agora a casa era só dele. E ele tinha um espaço enorme para cheirar e descobrir, e novos mestres para amar. Então depois de pouco tempo chegou outro cachorro, todo desarrumado. Ele parecia ter nascido errado porque não tinha o focinho achatado: "Veio estragado de fábrica", pensou o Bolinha, e seus mestres resolveram chamá-lo de Pequeno.
Um dia o Bolinha ficou com um dodói na cabeça, que coçava, coçava, e nunca sarava. O mestre levou no doutor de novo que tratou de dar para o Bolinha o capacete mais legal que qualquer boxer poderia ter. Era difícil dormir ou comer no início, e se antes o Bolinha não identificava de onde vinha o chamado, agora então que era mais complicado. Mas o Pequeno invejou aquele capacete e o Bolinha se sentia mais especial. A mestra insistia em chamar aquilo de colar elizabetano, e o Bolinha pensava "colar é coisa de menina, isso é o capacete da sabedoria". 
Todos os dias os mestres passavam pomada no dodói para melhorar e quando eles se afastavam o Bolinha perguntava para o Pequeno: E aí, melhorou o dodói?
"Não, não sei, não dá pra ver, tem uma coisa branca em cima, deixa eu lamber pra tirar"....... "pronto, tirei... não, Bolinha, não melhorou ainda, mas tá quase."
Então a irmã do mestre, que também era doutora, falou que o Bolinha tinha que tomar um comprimido duas vezes por dia, e usar o capacete da sabedoria mais tempo. Mas também ela era ruim, furou o Bolinha, tirou sangue dele para fazer um exame e os mestres ficaram apreensivos. O Bolinha agora chamava os remédio de pílulas do poder. E o Pequeno não tinha inveja, mas muita admiração por aquele irmão mais velho.
Depois de uns dias os mestres do Bolinha estava muito felizes, o dodói já havia sarado e eles abraçaram os dois, dizendo: Que bom Bolinha, você não tem leishmaniose, que felicidade. O Bolinha pensava: "Mas é claro que eu não tenho, ninguém me deu isso, você tem, Pequeno?"
"Não, Bolinha, não tenho também, ahh, ninguém me dá nada".
E eles continuaram o dia a dia, agora sem o capacete da sabedoria ou os comprimidos do poder mas o Bolinha havia completado o ciclo do crescimento, era oficialmente o chefe daquela matilha de dois cães, e um gato como intruso.
A mestra até que deixava o bando entrar em casa quando o mestre não estava, mas eles sabiam que deveriam sair e cuidar de todo espaço lá fora. Essa era a função deles. Cuidar da casa que lhes dava tanto amor.
Então uma noite os mestres saíram e os deixaram em casa. Já estava bem tarde quando o Bolinha ouviu um barulho. Era alguém entrando na casa deles, sem ser convidado. Um convidado nunca tentava entrar pela janela, e o Bolinha não pensou duas vezes quando mordeu aquele homem indesejável. Na verdade considerando a raça, o Bolinha nunca pensou duas vezes em nenhum momento na vida. 
O homem então gritou, tentou afastar o Bolinha, que chamava de boca cheia: "Vemm Pequeno, não deixe esse homem entrar na nossa casa." até que PÁ!. Foi um barulho muito alto, e o Bolinha sentiu uma fisgada no pescoço. 
Com a boca cheia se sangue, sem saber se era dele ou do homem, ele não soltou, e o homem ainda gritava quando o Bolinha enfraqueceu e o deixou partir. "Vem Pequeno, vamos atrás dele, ele não pode fugir"... mas o homem já ia bem longe, e o Bolinha ficou cansado. 
Já bem distante da casa, os dois viram quando o homem ia embora e o Bolinha sentou-se. "Vamos ficar aqui, Pequeno, vigiando, ele pode voltar" 
"Bolinha, aquele homem te machucou"
"Não importa, Pequeno, senta do meu lado que eu vou te contar uma história.... 
Nem sempre eu fui o chefe da matilha, na verdade eu era o menor de todos e ninguém acreditava que eu fosse sobreviver. Quando o carro passou por cima das minhas pernas eu fui levado para um doutor que me deu um remédio para dormir enquanto me consertava. Nesse dia eu sonhei com um homem que me disse: 'Bolinha, seja forte, porque você tem uma missão. Você vai ter uma vida mais difícil, mas será muito feliz. Você vai viver com uns mestres que te amarão profundamente e vão cuidar para que você cresça forte e saudável. Bolinha, na verdade você será o dono deles e terá que cuidar deles para sempre. Um dia vão tentar  machucar os seus mestres, invadir a casa deles e será sua missão não deixar que isso aconteça. Bolinha, se você falhar, o homem ruim vai esperar seu mestre voltar para casa e machucá-lo muito, e cabe a você não deixar que isso aconteça. A sua vida na Terra, Bolinha, vai ser abreviada nesse dia, mas você continuará presente como um anjo daquela família. Lembre-se Bolinha, seja forte, você não pode falhar.'
E foi assim Pequeno, por isso que eu sempre usei o capacete da sabedoria, e tomei as pílulas do poder. Para ser forte e hoje passar para você a sua missão. Eu agora preciso dormir, estou cansado, fique aqui do meu lado, fique vigiando esse lugar. Agora, Pequeno, eu passo para você a missão de cuidar dos mestres. Na terra. E eu estarei presente também, você só não vai me ver sempre, mas de vez em quando. Se bobear, eu como a sua ração... eh eh eh."
"Entendi Bolinha, chega pra lá, vou deitar aqui do seu lado, fico com você até você dormir. E quando o mestre chegar eu vou contar para ele onde você está, para que ele possa te levar para casa."

Este post foi dedicado ao meu irmão e sua esposa, que perderam seu companheiro, o Bolinha, na madrugada de 18/09/2010, em uma tentativa de assalto. Sejam fortes e lembrem-se que ele estará sempre presente.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

I Workshop sobre Ciência Animal na Bahia


O programa de mestrado que eu cursei está promovendo o I Workshop em Ciência Animal. Para os profissionais e estudantes da região eu recomendo que participem.

O Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais (DCAA) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) por intermédio de professores e alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, estará realizando no período de 20 a 22 de outubro de 2010, o I Workshop sobre Ciência Animal na Bahia.
Este evento abrangerá 17 temas importantes relacionadas com inovações científico-tecnológicas e os desafios para a ciência animal nos trópicos, que serão abordados por renomados pesquisadores de diferentes instituições de ensino e pesquisas.
Objetiva-se promover o encontro das diversas áreas da ciência animal para oferecer a estudantes, pesquisadores, profissionais e produtores rurais, maior suporte técnico-científico, bem como uma oportunidade de atualização dos seus conhecimentos, como os avanços que vêm ocorrendo no setor.

Leia mais em

http://www.cienciaanimaluesc.com.br/

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Anuário, mesário, diário, horário

O Diário Veterinária, que foi criado com o propósito de descrever de forma descontraída o dia a dia do médico veterinário, está há quase 2 anos no ar.
Nesse tempo houve diversos acessos no Brasil e no mundo e a colaboração com muitos comentários dos fiéis seguidores.
Sem contar aqueles que entraram em contato por e-mail e formspring.
Hoje eu criei outra conta no TWITTER que vai concentrar informações de veterinária, mostrando que o diário também pode se um horário, ou minutário, e até segundário.
Acompanhem no Twitter @diariovet

GEEK CATS

Conheçam o portal GEEK CATS que expõe de uma forma descontraída o comportamento desses felinos que alegram a vida de muitos gateiros e veterinários. Segundo o site Mundo Tecno o blog é escrito pelo casal Michelle e Leandro que produzem quase que diariamente tirinhas de humor com histórias de seus próprios gatos, o Mike, a Nina e a Isis. A história do blog e do humor começou quando a paixão de Michelle em desenhar se uniu ao talento de escrever de seu marido, que cuida da divulgação, da parte técnica do blog e outros assuntos que não o próprio desenho.
Hoje o blog é uma terapia de casal, que os uniu mais e mostrou como respeitar o trabalho de cada um e apoiar um ao outro. Tão importante é o blog na vida do casal, que o Leandro está fazendo seu MBA com base nele!
Fonte da tirinha.
Tenho o prazer em divulgar o Portal:

GeekCats

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Boxer - Veterinária - Gato

Eu tenho uma boxer, a Rebeca. Eu não sei o quanto ela evoluiu desde que nasceu mas, vamos considerar que a vida de um cão dure 13 anos: O quanto se evolui nesse tempo? Hoje ela tem quatro anos, e vive em regime de liberdade, isto é, tem acesso à minha casa e ao quintal, mas prefere ficar na varanda. Ontem eu cheguei de carro e ela veio me recepcionar. Como sempre o ritual é o mesmo, ela pára do lado do carro e fica olhando para a porta de trás, esperando que eu saia para poder me cheirar. Mas, como motorista, eu estou na porta da frente, a vendo  olhar fixamente para porta de trás. Então eu abro um pouco o vidro e a chamo, quando ela olha para trás, para cima, dá dois pulos e corre pelo quintal. Em poucos segundos ela volta e pára ao lado do carro, olhando para a porta errada. Qual não é sua surpresa quando eu saio pela porta da frente e ela vem me cheirar. Cheira a roupa toda, as mãos, o sapato, a sola do sapato, e pára, me olha, como se perguntasse: É minha mãe mesmo? E cheira de novo. Depois seguimos para a casa e nesse trajeto ela vem pulando ao meu redor, e se contorcendo toda.
De longe estão os gatos, só olhando a situação e provavelmente pensando: A qual papel se presta esse cão? Eles não têm muita paciência, são três, a AK47, o Panda e a Sushi. A AK47 só aparece para comer, reclamar com o Panda e, quando está de muito bom humor, recepciona meu marido no carro. O Panda brinca com todos pela casa, come e briga com o gato do vizinho. E Sushi é mais carinhosa, fica à vontade pela casa e adora me amassar quando eu estou no sofá ou deitada na cama. Pode me amassar por horas seguidas.




E no meio dessa cadeia de evolução espiritual estou eu. É, porque se eu for acreditar que um espírito passa por várias encarnações, sendo humanas e animais para atingir um nível tal e considerando o cenário acima eu digo que o espírido vem novinho em folha como um boxer. Porque ele é feliz, ele ama, ele não pensa muito, ou nada. Ele se envolve, não enxerga o que é feio nos outros, é empolgado e otimista, é impulsivo e não é sábio. Quando ele decide virar-se e correr para a porta em 90% das vezes há um obstáculo que ele se bate no caminho.
Depois o espírito volta como um humano, provavelmente veterinário. Aos poucos descobre que o cérebro serve para pensar e ele pensa muito nos outros. Também tende a acreditar nas pessoas e já não se bate em 90% das vezes nos obstáculos. Até desvia deles se tiver um pouco de prática. No início da profissão o veterinário vai pensar mais nos outros do que em si próprio, até que, com o tempo, ele vai aprender que pensar nos outros deve se limitar aos animais, porque uma parte dos humanos é adorável, mas outra não está nem aí para todo o seu esforço e dedicação, muito menos para o próprio animal.
Depois ele volta como um gato para encerrar no auge  da sabedoria e um pouco de intolerância. Ele observa mais, talvez por ter se entregue tanto em outros momentos, agora ele precisa de mais confiança. Ainda mete os pés pelas mãos mas sempre cai em pé e com elegância, a ponto de, apenas se você conhece-lo muito bem, saberá que algo saiu errado. O gato também ama mas não faz mais o papel de bobo. Ele acredita que o mundo ainda precisa evoluir para ser considerado um lar, mas esquece de todas as teorias e paradigmas quando encontra um colo quente.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Curso de Ecodopplercardiograma


Em continuação ao post Ecodopplercardiografia...
Depois de trocarmos o aparelho de ultrassom por um que tivesse a ferramenta de doppler colorido, eu precisei fazer um curso de ecocardiografia, não adianta ter e não saber usar.
Confesso que até o dia do curso eu ligava o doppler para verificar circulação nas estruturas, para a tela ficar mais colorida e fazer o barulhinho do batimento do coração do cachorrinho.
Então eu procurei uma série de cursos sobre o assunto na internet e encontrei alguns bem interessantes:

Kardiovet
Provet
Echoa

Decidi fazer o curso do Instituto Kardiovet, que aconteceu de 26-30 de Julho/2010, em São José do Rio Preto. Enquanto eu procurava por hotéis e passagens de avião, me peguei várias vezes digitando São José dos Campos e até a data do curso, eu ficava com medo de acabar indo para o lugar errado.
Fiz uma pesquisa e segundo o mês do ano, considerando o estado de São Paulo, eu sabia que estaria frio. Só não pesquisei a meteorologia, parecia óbvio. Quando cheguei em São José do Rio Preto percebi que aquela cidade é uma exceção no frio, e os 27 kg em casacos que eu levei me serviram para dar trabalho e destruir a minha mala.
Por contato pela internet eu conheci outros dois colegas do curso e o terceiro eu conheceria no primeiro dia. Esse em questão errou a cidade e foi parar em Ribeirão Preto e, depois de uma noite no taxi, conseguiu chegar a tempo de pegar a primeira aula.
Acabamos ficando no mesmo hotel, no centro, que estava a 12 reais do curso, ao lado de um MC Donalds, 200 farmácias e bons restaurantes.
Eu achei que fosse encontrar bastante dificuldade no curso porque, apesar de ser em imagem, a minha experiência em cardiologia é limitada. Entretanto não foi tão difícil quanto eu imaginava. Na realidade foi muito fácil e divertido.
O curso foi muito interessante porque não abrangeu somente a técnica mas também o caso clínico do início ao fim, com pinceladas em fisiopatologia, alterações clínicas e no ECG e tratamento.
Não foi o tipo do curso que se sai com a impressão de que ficou faltando algo, ou a carta na manga não foi revelada. Eu provei e aprovei.
Gostei bastante do aprendizado, da estadia no hotel, e dos amigos que eu fiz.
Claro que adorei o Mc Donalds e a papelaria Kalunga que tinham na esquina. E também tinha esse mercado que ficava aberto até às 22 h, aonde comprei lembrancinhas e um zippo vermelho de R$ 4,99.
Os contatos que eu fiz no curso também foram excelentes. O Ricardo é veterinário em Boa Vista, a Márcia em Fortaleza e o André trabalha em Salvador.
A única coisa que não gostei foi o tombo que eu tomei na garagem do hotel, na frente dos meus colegas, no último dia...e mesmo para uma estabanada como eu, ainda sinto que saí no lucro de SJ dos Campos... digo, do Rio Preto.

OBS: O link PROVET não dá acesso ao curso atualmente (10/09/2010), pode ter sido tirado do ar por já ter acontecido.
fonte da imagem

Voto Pelos Animais - WSPA

Nessas eleições nós estamos decidindo pelo futuro do Brasil.
Decide-se pela saúde, pela educação, pelo emprego, pelos direitos, pelas indústrias, por uma pilha de tijolos e uma cesta básica.
Há muitas razões para se decidir por esse ou aquele candidato, vou apresentar só mais uma...

A Sociedade Mundial de Proteção aos Animais apresenta um trabalho com candidatos que são "Amigos dos Animais", isto é, apresentaram ou participaram de algum projeto que teve como prioridade o Bem Estar Animal.


Claro que o voto não deve ser fundamentado em uma só razão, ainda deve-se checar o passado dos candidatos e escolher aquele que melhor atender à sua necessidade de cidadão.
Fica a dica para quem precisava de só mais um motivo para votar no candidato preferido ou a título de curiosidade, para você saber em que andam trabalhando por aí em prol do bem estar animal.


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O dia do Médico Veterinário - 9 de Setembro

Eu não estou mentindo se falar por todos os veterinários que há prazer em comemorar no nosso dia.
Não sei se o médico, ou o fisioterapeuta, ou o administrador (que também comemora em 9 de Setembro) aproveitam também o dia das suas profissões, mas a cada Nove de Setembro eu me sinto renovada.
Como qualquer outro batalhador da profissão eu comecei sem saber nada e até agora ainda sinto que há muito para descobrir.
Todos os dias eu levanto com uma programação entre clínica, inspeção e atendimento e é incrível como na maioria das vezes as coisas não andam como eu programei.
Tudo que sai como planejado é só um motivo para seguir em frente, tudo que sai de errado acaba sendo milhões de motivos para dar um passo para trás e descobrir o porquê.
Então a gente senta, estuda, pensa e chora. No final das contas vê que precisa melhorar, aprender e batalhar mais um pouco.
E assim o veterinário corre atrás do colega, de fazer um curso, de comprar um aparelho, de saber mais.
Não conheço o veterinário que deixou a profissão pelas adversidades, mas conheço muitos que melhoraram por causa delas.
Então, nesse Dia do Veterinário, o que eu desejo aos meus colegas são desafios instigantes e absurdos e, mais do que isso, a paz de espírito para resolvê-los.
Aproveite seu dia, colega. Feliz dia do Médico Veterinário

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