domingo, 30 de novembro de 2008

O Olho do Lingo



Em uma madrugada dessas quando a gente está dormindo, sonhando com tudo menos com animais, o telefone toca:
"Alô, esse telefone é de emergência clínica?"
"Sim, (rosnando), pois não?"
"Doutora, a senhora atende agora?"
"Sim, (rosnando)."
"É que meu pinscher saiu e voltou com um olho pra fora!!"
"Caramba!!! Leva pra clínica, estou lá em 30 minutos."
Eu aprendi muitas coisas na faculdade, em estágios, acompanhei muitos casos, mas nunca vi um olho fora do lugar. Eu pensei, "bom o pinscher já é olhudo, deve ter levado uma mordida e inflamou a pálpebra e o cara está exagerando"... de qualquer forma em cinco minutos eu me arrumei e levei mais cinco para chegar na clínica. Deu tempo de dar uma lida no assunto, olha meu amigo, chame de exoftalmia, buftalmia, do que você quiser mas aquilo parecia algo fora do comum. E era. O Lingo chegou com o olho fora da órbita, e outro no lugar. Ele havia brigado com outro cão e se estressou, puf, o olho saiu!!!
Como tratar?? bom, a princípio o ideal é que olho more no lugar certo, até para não assustar veterinários desavisados, e assim foi. Eu avaliei a integridade do mesmo, os reflexos, a vascularização, para saber se estava tudo certinho e se valia a pena colocar de volta. Eu não imagino a minha Fox Paulistinha olhuda (Bridgit) com um olho para fora, eu iria desmaiar com certeza, mas o proprietário foi forte.
Ele foi embora, eu sedei o bicho e depois de muita manobra e um grande trabalho o olho voltou para o lugar. Até desinflamar a região foi necessário dar uns pontos na pálpebra para segurar esse olhão la dentro, ele ficou parecendo um frankenstein de colar elizabetano (um aparato que deixa o cachorro parecendo uma cabeça de abajur). E levei para casa.
O Lingo era um doce, muito dengoso. Fez xixi em todas as cadeiras e no sofá de casa, ficou de castigo dentro do banheiro.
No outro dia eu levei o Lingo para a clínica e o dono foi buscar. Porém ao ver o cachorro com o "olho costurado" o cliente passou mal, quase desmaiou. Eu larguei o Lingo e fui acudir o menino. "ei moço, você tá bem? vixe tá pálido"
Apertei o botãozinho de pânico da segurança que aciona a ambulância e ele foi socorrido. Foi uma queda de pressão. Eu me assusto com um olho para fora e ele com um "olho costurado".
Depois disso deu tudo certo, o olho resolveu morar no lugar certo e eu aprendi mais uma coisa.


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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Papai


Quando eu era criança eu achava que me tornaria o adulto mais legal do mundo. Eu detestava adultos chatos, implicantes. Eu acho que fiquei chata.

Depois que eu passei outros dez dias no hospital com meu pai, em Outubro de 2005, os enfermeiros me chamaram 'esquentadinha'. Eu estava pior do que o cliente mais chato, desesperado e chorão. Criei empatia por esse cliente. Pensei muito nas minhas atitudes na posição de quem cuida, na paciência com o paciente, no carinho e na sinceridade. Às vezes eu me aborrecia no hospital quando perdiam a paciência com o papai, mas acompanhei muitos gestos de carinho e compreensão também.

Ele sentia muitas dores, às vezes durante confusão mental ele queria tirar a sonda nasogástrica, o soro. Quando eu cheguei em Brasília, no hospital, o meu pai estava amarrado. À medida que os dias foram passando ele recebeu muito carinho e foi melhorando a condição física e a consciência.

Foram dez dias muito importantes para o nosso relacionamento. Conversamos, eu toquei violão, ele me contou várias coisas das quais se arrependeu, recitamos suas poesias, dormíamos conversando, ele me acordou uma noite de madrugada para pegar seu boné e os óculos escuros, eu peguei e ele ficou usando até amanhecer, as enfermeiras entravam e falavam: mas tá bonito heim Seu Júlio! 

e ele agradecia: bondade de vocês... muito obrigado!

Eu perguntei se ele sentia falta do meu avô, que havia morrido naquele ano, em 04/01/2005. 
Ele me respondeu que sentia falta dele todos os dias.

Aprendi a conhecê-lo melhor: ele era bohemio, gaiato, inteligente, rápido, carismático, passional, triste, hipomaníaco e responsável... era o meu pai. Foi a última vez que eu o vi com vida. Eu voltei para casa. Ele teve alta e foi viver com a irmã, minha tia, que o acolheu com muito amor. Ele foi para a UTI duas vezes. Da segunda vez, em 31/12/2005, o meu irmão foi visitá-lo e foi a última vez que o  viu consciente. Ele perguntou para meu irmão:

"Carlos, você vai passar o reveillon aonde?"

"Ainda não sei pai, talvez com uns amigos!"

Então ele disse para meu irmão: "Ah, eu acho que vou ficar aqui pela UTI mesmo, vai ter uma rodada de champagne à meia noite".

Ele entrou em coma no dia seguinte e faleceu em 04/01/2006. Eu pude prestar as minhas homenagens e me despedir. Contamos algumas piadas no velório, com certeza ele curtiu.

Eu sinto falta dele todos os dias!
OBS: Meu avô morreu em 04/01/2005, meu pai em 04/01/2006; nem preciso dizer que meu irmão passou medo em 04/01/2007!!!

"Eu não quero um céu de estrelas o ano inteiro, mas que cada um seja o primeiro a estrelar o seu próprio céu. Eu não quero que só haja amor no mundo mas que sempre cale fundo ao ver o irmão sofrer. O homem que pensa que tudo sabe erra ao pensar que lhe cabe ser homem e Deus também. Na guerra cada povo que se mata não entende que lhe falta motivo para viver, mas é aí que falha a humanidade, pois não tem finalidade, quando pensa que a tem. Eu não quero um céu de estrelas, ou só bem, mas que o homem viva sem imaginar que tudo tem."

Júlio Geraldes de Oliveira Lima (in memorian)




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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Escalas em Brasília


Durante a minha estadia em São Paulo eu tive que fazer duas viagens. A primeira para Brasília, para o aniversário de XX anos da minha mãe. Peguei um metrô de madrugada para a estação Jabaquara onde tomei um taxi para o aeroporto e um vôo às 7 da manhã para Brasília. A festa foi muito boa, o Beto ia me encontrar mas o carro quebrou em Vitória da Conquista. Eu chorei bastante, estava com muita saudade. Na volta para São Paulo eu quase desvio para Ilhéus, para casa.
Quando o meu curso já estava acabando eu fui para Brasília de novo, perdi o último dia de aula, a despedida. Fui acompanhar meu pai que estava internado, cirrose e diabetes.

O curso foi fantástico, eu aprendi muita coisa com gente muito boa... não vou conseguir comprar um aparelho por agora mas eu já sou diferente, eu já estou seguindo uma trilha nova. Durante 3 dias em São Paulo eu fiz um atendimento tipo home care em um cão da raça Tenerife que tinha diabetes decompensada e hiperadrenocorticismo. Fiquei hospedada no apartamento do casal dono do cãozinho e minha função era cuidar dele. Me rendeu uma graninha, trabalhei esses dias todos sem gastar nada e recebi pela minha dedicação, me senti ótima, a família ficou bem satisfeita também. Infelizmente o cãozinho morreu alguns dias depois, queria me lembrar do nome dele, o 'pai' se chamava Luís Felipe, perdi contato com eles, uma pena.

Bom, encerrado o curso e eu rumo a Brasília fui ficar com meu pai. Ele teve algumas fases de confusão mental (chamamos de encafalopatia hepática) e não se qualificava ainda para um transplante de fígado. Ele dizia que queria sair do hospital, ia deixar o emprego e se internar em uma clínica, se dedicar à música e à pintura. Minutos antes a médica havia dito para mim e para a esposa do meu pai que ele não sobreviveria para esperar o transplante, se sobrevivesse 4 meses seria lucro.

Depois disso eu voltei para casa, saudade do Beto, da Bridgit e meus outros bichos.



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terça-feira, 25 de novembro de 2008

Comidas de São Paulo


Passar um mês em São Paulo, longe do marido, de casa, ótima oportunidade para fazer uma dieta e voltar magra. Eu já tinha ganhado uns 10 kg depois do casamento, emagrecer uns 5 kg iria me fazer bem, eu ia voltar mais linda para o Beto. Ledo engano!

"Alice, não se esquece de ir no Mercado Municipal e comer pastel de bacalhau e sanduíche de mortadela!" Isso e "não aceite balas de estranhos" foram as únicas recomendações que eu recebi antes de ir para São Paulo.

Tinha uma padaria próximo à casa que eu estava hospedada na Vila Madalena que tinha os preços meio salgados, e cada doce divino. Sem pensar em subir em uma balança eu pesei algumas coisas como, por exemplo: Quando que eu vou ver qualquer doce parecido como esses na minha vida? Eu tinha que provar de todos, era algo que eu devia a mim, não só à minha razão de viver mas à essência de tudo que eu já comi na vida.

Eu comi um por dia, alguns repetidos. Às vezes estava muito frio para sair de casa mas eu tinha que respeitar a meta que eu firmei.

Um dia eu resolvi almoçar nessa padaria também. Eu escolhia e lá estava o BAURU!!

Eu vi uma vez na televisão que o Bauru feito em São Paulo não tinha nada a ver com o da Bahia, que era pão, queijo, presunto e tomate.

Lá estava eu, aos 25 anos prestes a provar um bauru de verdade pela primeira vez na vida. Eu pedi e fiquei vendo o rapaz preparar. Ele pegou o pão e esquentou na chapa, e eu ansiosa. Depois derreteu uma fatia de queijo e eu prestando muita atenção para aprender. Depois ele colocou no pão, com uma fatia de presunto e uma rodela de tomate. Pronto.
O que???????

Esse foi o bauru mais caro que eu já comi em 25 anos.

O jeito era pegar um metrô para a estação Santa Cruz e comer Mc Donalds no shopping (pouco antes de eu ir embora, descobri um Mc Donalds do lado da casa que eu estava), ou almoçar o dogão da esquina.

Terminou o curso da Vanda e ela foi embora. Eu a acompanhei até a estação Tietê para ela pegar o ônibus, onde eu conheci uma banquinha de biscoitos caseiros fantástica, que me fez retornar ali umas três vezes depois.

De metrô não tinha erro, eu ia para qualquer lugar, mas andar tanto não segurou meu peso. Resultado, em um mês eu ganhei 5 kg... como??????? Só pode ter sido por causa do frio.



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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Curso...


O curso de ultra-sonografia estava sendo muito válido. Eram bons profissionais que estavam apresentando todo o assunto para nós. As aulas práticas também eram muito boas. Eu estava amando, acho que me encontrei mesmo no que eu quero fazer.

A sala de aula era quentinha, descongelava meu cérebro, o coffee break era saboroso, glicose para o bom funcionamento do sistema nervoso como raciocínio e controle dos tremores. Durante o coffee break uma turminha ia para a varanda fumar, eu tinha parado recentemente mas só estava procurando um motivo para voltar... que foi a necessidade de descongelar os pulmões. Se fumar fosse a base de gelo e não de fogo, eu não teria voltado.

Todas as meninas que estavam hospedadas na mesma casa que eu, e as donas da casa fumavam. Foi quando eu fui reparar na quantidade de pessoas que fumava em São Paulo. Às vezes eu não dava conta de sair na varanda para fumar porque não conseguia me mover no frio e aparentemente nevava lá fora.

Às vezes eu ficava com tanto frio nas aulas que eu ouvia alguém dizer:

- Nossa, a baiana está ficando roxa!!!

- Eeeeeuuuu nnnnãooo ssoouuu babababaiiiaaana!!!

Teve até a campanha do agasalho para mim, ganhei um casaco de moleton. Fiquei muito feliz, mamãe perguntava se eu não tinha vergonha!!

Assim, dia a dia eu fui aprendendo mais sobre ultra-som, doenças, laudos e sobrevivência em temperaturas adversas.
Uma das aulas que eu mais gostei foi a visita ao zoológico. Nós fomos no hospital veterinário do zoológico de São Paulo acompanhar a ultra-sonografia de uma leoa com suspeita de infecção no útero e de uma cobra com suspeita de ter um ovo retido. Eu cheguei bem perto da leoa, anestesiada é claro, ela era muito fofa. O exame da cobra não me atraiu muito, eu não consegui acompanhar direito, uma vez que eu havia corrido inconscientemente para a sala ao lado quando foi aberta a gaiola da cobra.
Depois nós fomos passear no zoo. Eu e um grupo fomos ver os animais internados no hospital e nessa hora a gente esquece tudo que aprendeu, fica chamando o bicho, querendo passar a mão, até que vem um estagiário chato de lá dar bronca na gente:
"Não pode pegar nos animais, na verdade vocês nem podem estar aqui!"
Eu até vi a boca da guria se movendo mas eu só entendi: "bla bla bla, blablablablabla, blabla!!!"
Aff
Então fomos passear, vimos os pingüins, leões, até formigas. O zoológico de São Paulo é lindo, fantástico mesmo.


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sábado, 22 de novembro de 2008

Google Analytics



Esse rapazinho, o Google Analytics, é um fofoqueiro. Ele me conta quem andou visitando o meu blog, ele me conta que eu visito mais do que qualquer pessoa... e ele me conta que vocês tem gostado. Obrigada pelas visitas. Na verdade ele não me fala quem visitou, isso quem me fala são os comentários, mas ele me diz de qual cidade vem as visitas.

Esse post tem como objetivo agradecer a todos pelo prestígio e pedir faça um comment dizendo sua cidade.

Obrigada a todas as visitas de:

Salvador (que inclui Ilhéus, o google é meio confuso às vezes); Brasília; Rio de Janeiro; São Paulo; Belo horizonte; Curitiba; Fortaleza, Itabuna; Cuiabá; Porto Alegre; Apucarana; Campinas; Osasco; Blumenau; Vitória; Recife; Ribeirão Preto; Pelotas; Taubaté; Guarulhos; Santa Maria; Maceió; mossoró, Sinop; João Pessoa; Campo Grande; Eunápolis; Goiânia; Cascavel (ou Planalto); Aracajú; Porto Velho; Piracicaba; Passos; Juazeiro; Porto Real; Santo André; Florianópolis; Volta Redonda; Barra Mansa; Macapá; Rio do Sul; Santos; São José dos Campos; Caxias do Sul; Natal; Manaus; Ijuí; Londrina; Uberlândia; Viçosa e Teófilo Otoni.

Obrigada também pela paciência e gentileza de todos os meus contatos do MSN que não me xingam quando, 20 vezes por dia, eu mando o link do blog, bem como os contatos do Orkut!! :)



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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Primeiras impressões


São Paulo é muito frio. E tem muito japonês. Imagine o Japão no Alaska!! é isso aí. A minha primeira aula foi angustiante, eu não conseguia escrever porque tremia muito. Passei MUITO frio. Tudo que eu já tive na vida que se chamava casaco era fichinha para aquele frio, acho que nunca tive um casaco de verdade, especialmente nessa ocasião.

Saí para comprar roupas com a Vanda. A Vanda era uma menina que estava fazendo outro curso, e se hospedava na mesma casa que eu. Pegamos um metrô, ela me ensinou onde comprava o ticket, e lá fomos nós.. DE METRÔÔÔÔ!!! Ah foi muito legal, eu nunca tinha andado de metrô na vida, parecia uma criança. As pessoas são muito sérias no metrô. Rapidinho chegamos na estação.

Andamos até a Rua José Paulino, famosa pela quantidade de loja de roupas, qualidade e preço também. Infelizmente as roupas da maioria das lojas eram de TAMANHO ÚNICO. Me explica isso de tamanho único, brasileiro tem um só tamanho? e esse tamanho tem que ser magro? Não achei quase nada para mim. Fui encontrar em uma loja de tamanhos maiores :/, do tipo "Aqui você acha".

Comprei meia-calça para dormir, um jeans e um casaco de verdade.

Depois fomos passear na 25 de Março...

Estava lotado, a Vanda reclamava um pouco, eu seguia o fluxo, aonde me deixassem eu entrava, porque tinha muita gente. Na 25 de Março foi onde eu fui mais feliz, comprei algumas coisas como brincos que eu nunca usarei, acessórios para dar de presente, uns cachorrinhos de resina para a clínica, cadernos, canetas, lápis de cor e uma MEIA DE DEDINHOSSSS!!!!!

Amei minha meia de dedinhos e amei andar de metrô. Se não fizesse tanto frio, essa cidade seria perfeita.


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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ida para São Paulo


Once upon a time, em 2005...

Finalmente estava chegando o mês de Junho e no fim do mês eu iria para São Paulo. As coisas na clínica estavam indo bem, os clientes nos conhecendo, a cada dia apareciam novos casos... mas agora eu estava preocupada com o curso de Ultra-sonografia em pequenos animais!!!!!

Por muita sorte eu consegui alugar um quarto em uma casa que era do outro lado da rua onde seria o curso, foi ótimo.

Quando finalmente chegou o dia eu viajei. Me despedi do Beto aos prantos, seriam 30 dias longe dele, longe dos meus bichos, longe do trabalho, em São Paulo.

O avião sobrevoou a cidade, eu observei, no meio de vários prédios havia uma pista de pouso. Quando a porta abriu eu achei que estava no ponto errado. "motorista, no próximo por favor"... por engano ele havia pousado no Alaska... eu não consegui mais pensar em viagem, curso, saudade, bicho, na magia da grande São Paulo, NADA, meu cérebro congelou no frio. Eu só consegui descer as escadas porque as pessoas atrás deram uma "forcinha". Peguei minhas malas e fui atrás de um taxi.

Eu tinha que sair o mais rápido possível daquele aeroporto, da última vez que estive em Congonhas em uma conexão de 30 minutos eu fiz 10 assinaturas de revistas. 

Peguei o taxi, "pega do branquinho"disse a mamãe "o vermelhinho é especial para pessoas com bolso especial". Era uma taxista muito simpática, foi me explicando os lugares, o pessoal adora saber que você veio do Nordeste, as chances de você pegar um taxi em São Paulo guiado por um nordestino são grandes.

Ela não sabia chegar na rua.. quando chegamos na Vila Madalena ela me passou um livro parecendo uma lista telefônica de 500 páginas e disse: procura aí no mapinha a rua!!

MAPINHA!!!!!!

Até eu entender como eram dispostas as ruas, como eu deveria procurar... demorou. Mas achamos o endereço, rua Agissê. 

Fui descarregar as malas e me esquentar.. a aula começava no mesmo dia..MUITO ainda ia acontecer!!



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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Ser mãe é padecer !! (no paraíso??)


A minha mãe sempre diz que filho faz a gente passar por cada situação, eu não sei, ainda não tenho filhos... mas eu já aprontei algumas com ela. Uma das últimas foi há cerca de 1 ano, quando eu cheguei de viagem e ela foi me buscar no aeroporto. Ao desembarcar eu abracei a mamãe, dei beijo... e não achei meu celular. Procurei, procurei e nada. Falei: mãe.. eu esqueci no avião!!!
Então falamos com o pessol da GOL. Atrasou o vôo, procuraram nas cadeiras, no chão e nada.
A minha mãe falava: minha filha você é muito esquecida, tem certeza que não deixou no hotel?
"Claro que não, mãe, eu deixei na bolsinha da frente da minha cadeira"
Mais uma vez questionamos e o pessoal da limpeza do avião chegou, perguntamos a todos e NADA. Minha mãe dizia: "Meu Deus, só você mesmo Alice, vamos abrir uma ocorrência então"
e eu cheia de razão: " claro mãe, eu deixei lá e não encontraram??? não acredito, quero meu celular"
Me pediram a minha identidade e quando eu fui pegar, achei o celular dentro da bolsa.
Eu tirei o celular e ofereci para o funcionário da GOL que estava, pacientemente, resolvendo nossos problemas:
"Quer?"
A minha mãe só não me bateu porque ela passaria vergonha, mais ainda. Tomei bronca até chegar em casa, ela esqueceu a saudade e a felicidade de encontrar com a filha... eu mereci. Depois disso, pode reparar, quando você sai do avião eles falam: lembre-se de levar todos os seus pertences, inclusive o celular!

Filho não é fácil, não me esqueço de uma cliente que sempre ia com a filha, de uns 13 anos. Então elas levaram um cachorro para vacina que depois eu soube que morreu atropelado, outro cachorro foi adotado, também foi para vacina e um mês depois me avisaram que tinha sido vítima de envenenamento. Até que no terceiro cachorro a menina fala durante a consulta:

"A minha mãe falou que aqui dá azar, depois que trouxemos os cachorros aqui, todos morreram"

"Menina, cala a boca, quando foi que eu disse isso??"

eu falo: "ehehe, bom, eles vieram para vacina e não atendi nenhum deles em emergência"

"Pois é, minha mãe falou que quando trouxe aqui, logo depois o cachorro foi atropelado, depois trouxe outro e logo em seguida morreu envenenado, ela disse que é azar daqui"

eu ri

a mãe de olhos esbugalhados, vermelha, querendo matar a filha:

"cala a boca menina, não fala besteira.... doutora, desculpe, essa menina é louca"

"mããããeee. foi você que me ensinou que não devemos mentir!!"

"também te ensinei a calar a boca, então CALADA"



Eu tenho certeza que essa criança apanhou em casa, bom, eu bateria!!


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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A criação pode trazer problemas? II


Os nomes citados no texto foram modificados para preservar a identidade do animal e do proprietário e para praticar a minha criatividade em criar nomes.

Eu atendi o Ziluinho, que é um mestiço de ET com a espécie canina, e se acha um poodle dos mais cheios de regalias. O Ziluinho tinha 2 kg, sendo que um deles de dentes afiados, e parecia um pinscher preto com fiapos de pêlos longos e arrepiados. A queixa da proprietária era que Ziluinho  mordia o próprio tornozelo até se machucar. Foi levado a vários veterinários para tratar desse problema de pele.

Ziluinho era muito bravo, quando foi solicitado à proprietária, Dona Sulamita, que colocasse e focinheira no animal ela dizia: 

Mas doutora, ele não quer!!

Ela ia com a focinhieira, ele tirava com a pata, então ela dizia:

Doutora, ele quer brincar com a focinheira!!

E colocava em uma patinha, depois na outra, depois na mesma, depois na outra... e eu esperando..

D. Sulamita, eu preciso que ele esteja de focinheira para poder examinar a pele, ou a senhora segura ele?

Eu não, doutora, ele me morde!!

Depois de 45 minutos conseguimos conter o Ziluinho, quando pude examinar a lesão. Não havia problema de pele, as lesões eram auto-infligidas, características de um problema comportamental. A proprietária chegava em casa e ele se estressava, começava a se morder, quando era contrariado ou quando alguém sentava na sua poltrona preferida. Várias situações levavam àquele comportamento.

Quando terminei o exame a dona Sulamita me disse:

Pronto doutora, posso ninar meu bebê agora? 

E começou a balançar o cachorro e cantar "Meu cãozinho Ziluinho, o que eu sinto por você só com palavras, não sei dizeeeerrrrr". 

Eu não sabia como dizer àquela senhora que o seu cão se mordia porque ele não era tratado como cão... ele era completamente dependente do amor e da presença da proprietária, pedia colo o tempo todo, chorava... aquele trocinho arrepiado havia perdido sua identidade e descontava no próprio tornozelo.

Difícil foi convencer D. Sulamita que o problema era simples, complicado era fazê-la mudar de atitude. Ela foi embora, deve ter levado Ziluinho para outro veterinário que resolvesse o "problema de pele" dele, pois ele não tinha motivos para ter estresse e era muito feliz.

Recomendoo blog Cãosciência

PS: Essa cantoria me lembrou quando uma senhora levou um cão atropelado e pediu para cantar para ele durante o atendimento, porque ele ficava calmo. Eu permiti quando ela começou:

"Do jeito que Juninho me olha, vai dar namoro!! Do jeito que Juninho me ooooolha vai daaar namoro!!"



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sábado, 15 de novembro de 2008

Afônica


Era uma vez, nos dias de  hoje ...

...Trabalhar em dia de Feriado é sempre novidade. Ou é uma emergência, ou é um banho e tosa de emergência também, o que não deixa de ser novidade. Trabalhar em dia de feriado afônica nunca tinha acontecido comigo.

Eu apresentei um trabalho no mestrado há dois dias que me tomou a manhã toda, tanto que na aula da tarde não pude responder nenhuma das perguntas malvadas feitas pela minha orientadora.... fiquei AFÔNICA. Isso é terrível porque eu não sei a linguagem dos sinais, e mesmo que soubesse as pessoas não entendem meus sinais, eu começo a falar e a primeira reação da pessoa é rir para depois prestar atenção no que está sendo dito, então tenho que repetir tudo e a voz que já estava fraca vai sumindo cada vez mais. Entre uma frase e outra eu tusso para ver se melhora alguma coisa mas só detona mais ainda a garganta. Depois da aula tive que resolver um problema que envolvia boato e envolvia o meu nome, agora imagine eu ficando p. da vida com a situação e sem voz!?!?!? Nem tive como atrás da "fonte" falar alguns desaforos porque ela não entenderia, e eu teria que escrever...não, não deu certo. Talvez Deus tenha me deixado afônica para evitar meus desaforos...

Então ontem eu fui trabalhar, sem voz nenhuma ... e uma agonia constante de me expressar. Não atendi nenhum telefonema....  a estagiária atendia e falava: Sim, é da Casa do Bicho, ela está, mas está impossibilitada de falar, não, não está em consulta, ela está sem voz" e eu pensando: que situação ridícula. 

Mas hoje foi pior, é feriado nacional, 15 de novembro, e eu fui trabalhar até meio dia, pensando: hoje todos vão para a praia, eu fico tranqüila até a hora de fechar, beleza pura. 

Primeiro atendimento foi o Chatran, o insuficiente renal gravemente debilitado, que foi para eutanásia. Eu sempre gosto de discorrer sobre a doença. o procedimento, as implicações, mas acho que a senhora não entendeu nada, ela fazia uma cara de choro, pelo cão acredito, e de desesperdo, pelo papo provavelmente.

Eu desisti, fiz meu trabalho, atendi o próximo cliente, um filhote para vacinar de um proprietário cheio de dúvidas. Eu sussurrava as respostas e ele não se compadeceu de mim, cada vez perguntava mais, até que eu anotei tudo e prometi mandar por e-mail.

Deu meio-dia..ÓTIMO.. fechei tudo e fui para casa. No caminho me ligaram 2 vezes para perguntar sobre banho e tosa, e eu aos berros consegui dizer que só segunda-feira. Ao chegar em casa me liga uma amiga, querendo internar a cachorra, está debilitada e precisa ficar no soro. Mais uma vez eu volto para a clínica para pegar os medicamentos e interná-la aqui em casa mesmo, é uma poodle pequena que não deu o menor trabalho... 

Meu trabalho eu sei fazer, mas hoje eu faço muito melhor se não tiver que falar.

OBS: acabaram de me ligar para perguntar se abriremos normalmente na segunda-feira, se tem que marcar consulta e o valor....  espero que ele tenha entendido pelo menos o valor.



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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Maridos de Veterinárias!!!


Os homens não entendem as mulheres. Até apoiam, mas não entendem. Marido de veterinária então nem se fala!! Qual o problema de usar nosso carro para levar para casa um paciente poodle de 15 anos, cheio de tártaro e incontinente?

"O carro tá podre por causa dos seus bichos"

"Não tem mais cheiro de novo por causa dos seus bichos"

"vou comprar uma fiorino pra você encher o fundo de bicho"

Muitas vezes eu tenho que levar um animal para casa, e não tenho como dormir na clínica, ainda é muito pequenininha. 

"A clínica não pode pagar um taxi, não?"

"Taxi não leva cachorro, Beto"

"Ah, e eu levo?"

"Tá bom Beto, vou deixar o cachorro aqui"

"Mas ele não tem que ficar no soro?"

"Tem, vamos ver se ele aguenta até amanhã"

"Mas e se ele morrer???"

"Se morrer enterra!"

"Oooo Alice má, leva então"

Ou então eu falo:

"Tá bom, Beto, pode ir embora, eu vou dormir na clínica!"

"Vai dormir aonde"

"Ah, eu arrumo o colchão térmico dos cães"

"Ahh, tadinha... bora, bota logo esse cachorro no carro!!"

Daí chegamos em casa, a primeira vez que ele foi me ajudar a colocar um cachorro no soro, imagine a cena, eu segurando o animal e ele com minha caixinha de emergência na mão:

"Beto, abre esse soro aí..... bora Beto, ai meu Deus, roda esse trocinho até quebrar..... poha, não é possível, segura aqui o cachorro que eu abro... pronto, dá aí o equipo.... não.... não.... isso aí... isso beto, essa mangueirinha, toma o soro, monta ai... isso!! Brigada meu amorzinho... dá beijo!  hummm..........BETOO!!! tá derramando, fecha esse soro.... desce a bolinha Beto, afff, dobra a mangueirinha... pronto. Corta o esparadrapo por favor... BETO, vai aonde Beto??? Pra que tesoura Beto??? me dá que eu corto, vai!! pronto. Agora faz o garrote pra mim por favor, e segura o cachorro, ah, antes pega pra mim um cateter desses, o 22, ....tem escrito atrás Beto... o AZUL BETO!!! Tem né, me dá ai, faz de novo o garrote e segura o cachorro.... . shhh. .. pronto peguei... segura.... segura... SEGURA BETO!!! Mas eu disse!! Eu to calma sim,... EU TO CALMA BETO!!!!.... pronto, fixei... agora abre o soro... sobe a bolinha Beto!!... ué, não quer descer..............DESFAZ O GARROTE BETO!!!!... pronto, ficou ótimo, brigada mozinho, te amo!"

Esses dias uma amiga veterinária me falou que chorou tentando pegar uma veia de um pinscher e o marido não conseguia segurar.... eu disse: Fê, tem que ter muita paciência, o Beto tá ensinadinho, faz um garrote que é uma beleza!!!



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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A criação pode trazer problemas?


Hoje em dia com o crescente mercado pet nós vemos cada dia mais novidades. Um poodle mais chique tem um guarda roupas completo com traje de passeio, de gala, de banho, pijamas, roupão, sem contar os acessórios diversos como colares, laços, chapéus, etc, etc, etc...
No salão de tosa o mesmo passa por banho, corte de unhas e tosa. Podendo desfrutar de queratinização, hidratação, pintura dos pêlos, das unhas...
Quando ele é cachorro? Quando ele consegue exibir o comportamento normal da espécie?
Sabemos das necessidades naturais dos cães e precisamos orientar os proprietários quanto a isso. Zelo em excesso pode prejudicar e trazer problemas graves para o cão.
Na nova clínica eu comecei a receber os mais diversos casos de problemas comportamentais oriundos do não atendimento das necessidades do animal, do cuidado excessio mas deficiente, dos erros de manejo que cometemos diariamente.

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sábado, 8 de novembro de 2008

Valor do seu trabalho


Uma deficiência da Universidade é não ensinar aos alunos o valor do seu trabalho. A tabela do Conselho é defasada, me formei em 2004 e os preços eram de 1999. Na consulta eu incluía os procedimentos, alguns medicamentos, sendo que consulta é só consulta. Cada coisa deve ser cobrada separadamente. No consultório eu trabalhava com preços muito baixos. Eu achava que estava recebendo bem e que a culpa da falta de grana era o movimento fraco mesmo.
Uma consulta de rotina para vermifugação de um filhote, por exemplo, eu cobrava somente a consulta, orientava o proprietário, examinava o animal e dava o medicamento via oral. Se eu fosse colocar na ponta do lápis eu saia feliz porque trabalhava com uma consulta de 30,00 e o medicamento custou no máximo R$ 0,50. Acontece que o veterinário começa a ganhar dinheiro quando ele passa a pensar como administrador, como médico. Eu não estava ali para vender um medicamento de R$ 0,50, eu estava ali para auxiliar, orientar, entender o problema e resolver, não posso pensar como lucro no medicamento, mas o quanto eu ganho por tudo que faço. O que eu deveria cobrar era, por exemplo, R$30,00 da consulta mais R$2,00 do medicamento mais R$ 2,00 do procedimento, que era administrar o medicamento via oral. Agora sim eu estava valorizando todas as etapas do serviço prestado.
Então quando eu comecei na clínica com Renata, eu não sabia trabalhar valorizando o meu serviço. Achava que ela explorava mesmo, não conseguia entender que ela estava me ensinando a grande lição do valor do meu conhecimento.
No início eu ficava com vergonha de cobrar, ficava na obrigação de dar um desconto, e essa foi a primeira lição, eu não era loja, não tive desconto com meus gastos de faculdade, não posso dar desconto em serviço, poderia ser em algum medicamento vendido, e mesmo assim de 5%, o máximo de desconto que as empresas dão pra a gente em pagamento à vista, quando dão, é de 3%.
E muitas outras lições vieram depois dessa.
Eu não quero só ser veterinária, quero viver da minha profissão.

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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Anclivepa 2005


Esquecendo um pouco a dor e voltando no passado vou falar do Congresso que antecedeu a inauguração da clínica. Anualmente temos o Congresso da Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais e em 2005 foi em Salvador... claro que eu fui.
Enchi o saco do Beto para ele me deixar ir de carro, eram 450 km, não tinha como eu me perder. Então fomos Allana, Cláudia, Renata e eu. Voei em vários quebre-molas.
Aproveitei a oportunidade também para conhecer melhor a Renata.
Acertei com uma veterinária para trabalhar no meu antigo consultório por cinco dias, ela ficou um dia, pegou dengue, não voltou mais, que azar.
O congresso foi muito bom, várias pessoas de fora aproveitando Salvador, então os laboratórios promoveram várias festas. A Cláudia, minha amiga que fazia veterinária, foi só para as festas, ahahah. Ela ama animais, mas veterinária não enche seus olhos como uma cozinha, e eu que adoro comer, amo muito tudo isso.
Eu enlouqueço nas feiras dos congressos, até então eu havia participado como estudante, nunca como profissional, nós comandamos os estandes!! Participei de todos os sorteios, ganhei várias amostras, sacola de viagem, bolsa de praia, canetas, bloquinhos lindos.
Eu e Renata aproveitamos as promoções para comprar uns equipamentos para a clínica.
Na volta eu estava bem cansada, dividi a direção com Renata. Levei 7 horas para chegar, estourei dois amortecedores, disco de freio, a suspensão inteira, tomei uma multa, mas valeu a pena.
O Beto ficou bravo!!

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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Tatuagem



Ontem fez um dia que eu perdi meu Horácio, resolvi radicalizar, fiz uma tatuagem.

Na verdade foi a segunda, há um ano eu fiz meu gatinho. Lindinho, nas costas. Fui acompanhar a mamãe que queria fazer uma orquídea. Minha mãe é muito dengosa, mais do que eu, e não chorou nem reclamou na tatuagem. Claro que eu não podia deixar de fazer uma também. Comecei a folhear o portfólio, vi um desenho bem legal de um gatinho, e então ele passou a morar nas minhas costas.
Não doeu quase nada.
Então, dessa vez que eu vim para Brasília, resolvi fazer outra tatuagem. Não queria outro gato, eu gosto de gatos, especialmente dos meus e dos meus pacientes. Os gatos costumam deixar marcas nas suas visitas, como duas cicatrizes que tenho no braço, presentes de uma gatinha chamada Anjinho, e os arranhões no tosador a cada banho da Santinha. Mas eles são pacientes especiais mesmo, precisam de muita paciência e carinho. Então a tatuagem do gato nas costas veio a calhar, afinal de contas, toda mulher quer ter um gato atrás dela o resto da vida.
Mas eu queria algo mais. Pensei em tatuar outra coisa, mas não um cachorro. Eles que me perdoem, mas não são todas as tatuagens de cães que ficam boas. Então eu decidi tatuar um tigre, uma grande amiga minha, a Roberta, me falou sobre tatuar um tigre e eu achei a idéia ótima.
Mas antes de decidir o que tatuar eu tinha que tomar duas decisões, a de tatuar e o local. Meus amigos me disseram que eu era louca, a primeira decisão tinha que ser o desenho. Ah, lá na hora eu escolhia.

Falei com um amigo tatuador que me indicou uma pomada que anestesia por até uma hora, e também que ele sentiu muita dor na batata da perna, o local escolhido, mas que outras pessoas não costumavam reclamar não. Então ia ser na batata mesmo.

Escolhi o desenho, fiz o orçamento, comprei a pomada, passei com cuidado, fui ser tatuada. Antes de começar eu falei: moço, dá um tapa aí na batata para eu ver se dói!
PAFFTTT
Pohaaaaaaaaaaaa!!!!! Tá louco, o cara bateu sem dó e doeu muito.
Quando ele começou eu já tinha me arrependido, escolhi uma tatuagem grande, cheia de detalhes, que doeu bastante.
Parecia que ele tava me marcando com brasa quente. Eu tremia, e suava as mãos. Depois de 20 minutos que pareceram 5 horas, e eu perguntei para minha amiga, a Lya, se já tava terminando. Ela disse: sim, o contorno de uma pata!!

POR QUE OS TIGRES TÊM QUATRO PATAS???

eu xinguei até a décima geração do tatuador, da pomada, do laboratório que fabricava a pomada, da minha falta de memória do quanto isso poderia doer, da minha teimosia de fazer na batata da perna...

O tatuador era muito gente boa... eu comecei a me mexer... involuntariamente, o meu corpo não estava acreditando em tanta dor e em como eu estava parada, ali, sofrendo.
Então o Beto chegou, me levou água tônica, me disse que estava ficando linda, que eu era corajosa.... muito gentil mas não passava a dor.
Então eu perguntei se faltava muito, o tatuador já tinha percebido o quanto eu era fresca, ele responde: já fiz 60%!
setenta?
não, sessenta!
Setenta?
SESSENTAAAAAAA!!!!!
Daí eu calei.
Eu tremia, Beto riu, Lya riu, eu ri também. Daí eu comecei de novo: moço, aí onde você tá dói demais, deixa essa mão mais leve, que isso, aiiiiii, poha, car****, não é possível, tá doendo!!
CALA A BOCAAAAAAAA!!!!

ahahahahaha, demos gargalhadas, deu para descontrair
Depois de cerca de duas horas de sofrimento ele acabou, tirei fotos, talvez volte para arrumar uma patinha, mas ficou no local que eu queria, do tamanho ideal e do jeito certo. Esse é o Pacato, meu tigre, que vigia minhas costas.
Eittaa coragem!!




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