quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Retrospectiva 2010


Nesse reveillon eu vou pular só duas ondinhas, para ver se minha vida fica mais sossegada. (@alicevet)
Finalmente chegamos no final de mais um ano, e esse não foi fácil. Quando eu chego no final de cada ano eu sempre penso se valeu a pena, e a resposta acaba sendo a mesma... MAS É CLARO.
Em 2010 eu terminei o mestrado e chorei, não de felicidade, mas de alívio, foi difícil demais.
Nesse ano eu também aprendi coisas novas, como a ecodopplercardiografia, o que complementou a prática de  imagem na qual eu já venho trabalhando.
A clínica cresceu em serviços, funcionários e pacientes.
Eu comecei em um novo emprego, a de gerente de um petshop na cidade ao lado, Itabuna.
Passeei em São Paulo três vezes (ADORO!), para congresso, cursos, para comprar o novo aparelho de ultrassom. Passeei no Rio uma vez. Sem contar os eventos mais próximos que eu participei.
Comecei a escrever para um blog só sobre gatos, o Tudo Gato.
Definitivamente 2010 foi um ano muito bom profissionalmente.
Hora de planejar 2011. Procurar novos cursos, congressos, passeio. A agenda veterinária já se cansou das minhas visitas. Nesse ano eu quero continuar a cuidar dos meus pacientes e leitores, mas principalmente, cuidar da cabeça da veterinária. Eu mereço férias. Mesmo que não suporte muito tempo sem começar novos projetos, eu preciso parar.
Infelizmente 2010 também é um ano de saudade e perda. Dos diversos pacientes que passaram nas minhas mãos e eu não pude ajudar, dois marcaram sem dó o caminho dessa veterinária aqui, são eles o Antônio e o Floquinho.

O Antônio e o Floquinho eram dois poodles brancos. Eles não morreram da mesma doença, mas foram internamentos sofridos para toda a equipe. Eu não sei se isso existe mas eram cães muito “gente boa”. Sabe aquele cachorro que é cachorro? Que chega na clínica e se dá bem com todos, até com o tosador “pirracento”? Que não avança, não fica pedindo colo o tempo todo, não chora, não late. Que balança o rabo depois que você coleta sangue da jugular, que aceita o seu carinho e que tem o mesmo amor incondicional pelo seu proprietário? Que no final das contas é tão gente boa quanto o cachorro.
Pois é, quero terminar 2010 assim, com muito mais experiência, conquistas, trabalho e saudade daqueles que foram, em especial o Floquinho e o Antônio.

Feliz 2011 a todos

Fonte da foto: Arquivo pessoal do dono do Floquinho

sábado, 18 de dezembro de 2010

Veterinário também gosta de ganhar presente


Pois é, gente, eu não passo por aqui há um tempão. Não é culpa do Tudo Gato, rs, onde eu publico colunas quinzenais sobre os felinos, a culpa é do trabalho mesmo.
Mas, se não fosse esse trabalho, o blog não existiria, ou se chamaria "Diário de uma desempregada".
Eu ensaiei uma postagem por semana, quando perdemos um paciente muito querido, o Antônio, ou quando me indignei com um proprietário que não quis tratar a doença de pele do cachorro sob o pretexto que daria trabalho e voltariam as lesões, dentre outras situações. São postagens parcialmente escritas mas nunca publicadas, ainda...
Hoje eu não pude deixar passar o acontecimento. Ganhei um presente de natal de uma cliente, dona de dois felinos e estudante de veterinária. Achei uma gracinha porque ela nos presenteou com uma caixa cheia de bombom, e um tigre de pelúcia que rosna.
Vou aproveitar a oportunidade para deixar a minha mensagem de natal, e um videozinho do Panda e da Sushi mostrando como funciona o natal lá em casa.
Aos meus colegas eu desejo paz em 2011, muito trabalho e menos calote de cliente. Desejo serenidade nos atendimentos, firmeza nas decisões importantes, um sopro no ouvido daquele anjo da guarda, o mesmo que  ajuda nas veias mais difíceis de cateterizar.
Aos meus pacientes eu desejo saúde, sempre, para que eu não perca nenhum na minha mesa. E vou sobreviver de quê? Oras, sempre tem um doente que não é meu paciente ainda. Desejo também que errem todas as tentativas de mordida e arranhões.
Aos proprietários desejo que tenham paciência e perseverança nos tratamentos, podem descontar em mim mas façam tudo que eu pedir. Não se esqueçam de contar a história completa e falem sempre a verdade, por favor. Desejo também que sejam cada dia mais ricos, eheh.
Aos meus leitores eu só tenho a agradecer a fidelidade e pedir humildemente que continuem a ler e comentar o Diário Veterinária, que só existe por causa de vocês.




Feliz Natal

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Cuidados com os cães recém-nascidos


Quais são os cuidados que devemos ter com os cães recém-nascidos?
A princípio nenhum, afinal quem tem esses cuidados é a cadela. O mínimo que precisamos prover é um ambiente limpo, seco, ventilado, protegido da chuva, frio e predadores (lê-se outros animais e crianças). Mas o que fazer quando a mãe morre ou rejeita os filhotes, e a ninhada passa a ser sua responsabilidade? Não adianta chamar os cachorrinhos de batata-quente um, dois, três, quatro e cinco e deixá-los à mercê do próprio destino.
Certa vez eu atendi um filhotinho de poucos dias que veio com o histórico: Doutora, seguinte, ele é o menor da ninhada e estava chorando muito ontem. Eu o separei da mãe e dos irmãos e o tranquei no carro mas fiz uma promessa, se ele amanhecesse vivo eu o traria. Pelo que a senhora percebe ele amanheceu vivo, então eu trouxe.
Mas esse não sobreviveu, e eles não sobrevivem sem suporte, vejamos porque:

TEMPERATURA:

Do nascimento até três semanas de idade, o filhote não é capaz de regular a temperatura corporal. Se ele não tiver sendo aquecido pela mãe, em pouco tempo a sua temperatura corporal cai. Somente com quatro semanas de vida o filhote é capaz de manter a temperatura corporal tal como o cão adulto, entre 38 e 39°C. Você deve manter o cãozinho recém-nascido aquecido a uma temperatura corporal entre 36 – 37°C. Para isso você vai precisar de uma caixa de papelão, uma toalha, jornal e um abajur. Deve-se então forrar a caixa de papelão com jornal, dispor a toalha como se fosse um ninho, mantendo o cachorrinho envolvido, e o abajur sobre a caixa, com lâmpada incandecente. Não podemos nos esquecer que a temperatura ambiente varia absurdamente nas regiões do Brasil, podendo derreter o cérebro do veterinário de Fortaleza ou até congelar daquele de Botucatu (não exemplifiquei com o sul do Brasil pois nunca estive por lá, só Deus sabe como vocês sobrevivem aí embaixo). Deve-se atentar que cerca de 80% do filhote é composto por água e pode desidratar rapidamente, portanto o ambiente não pode também estar muito quente, sendo respeitada a temperatura corporal de 36 – 37°C. Na terapia intensiva na clínica veterinária  pode-se evitar essa desidratação lambuzando o filhote com óleo johnson sem perfume, ou óleo mineral. É mais difícil avaliar desidratação em filhotes recém-nascidos, uma forma segura é passando o dedo na mucosa oral, que deve estar úmida e não ressecada. Muito cuidado para não superaquecer o filhote, ele não tem a capacidade de se afastar do calor sozinho.

TROCAR A FRALDA:

Um bebê deve ter sua fralda trocada sempre que urina ou defeca mas no cachorrinho recém-nascido isso não é possível. Para entendermos o nosso papel nesse cuidado é precido entender o comportamento da cadela. Para manter os filhotes e o ambiente limpos, e não atrair predadores, a cadela lambe a vulva/pênis e ânus dos filhotes e só após esse estímulo que eles vão eliminar fezes e urina. Não, você não vai precisar lamber o filhote, mas deve usar um algodão umidecido e, gentilmente, simular a lambedura da cadela. Esse procedimento deve ser realizado em cada filhote pelo menos 10 vezes no dia. Se você encontrar fezes e urina no ninho é porque não está estimulando a eliminação de fezes e urina o suficiente. Quando não suportar mais o filhote vai eliminar sozinho mas isso não é o ideal pois causa dor, estresse, retorno de urina para os rins e cólica intestinal. Esse procedimento deve ser realizado durante as primeiras 2 semanas de vida do filhote.

ALIMENTAÇÃO:

Até aqui vimos que tal como os bebês humanos, os bebês caninos também precisam ser aquecidos, defecam, urinam, gritam (não como os humanos) e comem.
Atualmente temos no mercado algumas marcas de leite substituto canino em pó (PetMilk) ou líquido (Milk Bomguy). Um filhote de 400 g deve receber em cada refeição de cerca de 15ml de leite, perfazendo um total de 90 a 120 ml por dia. Entretanto há uma variação na concentração de nutrientes em cada leite comercial e deve-se respeitar a quantidade recomendada pelo fabricante. 
Caso não haja leite substituto canino comercial disponível, o veterinário responsável pela ninhada irá prescrever uma receita caseira a depender da disponibilidade do proprietário e da região. Não adianta prescrever ingredientes que não serão encontrados. 
Uma receita bastante utilizada para filhotes de cães é (BRETAS, 2003):

4 gemas de ovo; 
610 ml de leite integral; 
3 colheres de sopa de creme de leite; 
100 ml de água; 
10g de suplemento vitamínico-mineral para cães em crescimento; 
5g de calcáreo calcítico 

As refeições devem ser divididas e realizadas a cada 3 horas, todo leite que sobrar de cada mamada deve ser descartado e uma nova receita ou mistura preparada na próxima refeição. O leite deve estar aquecido a uma temperatura semelhante à temperatura corporal da cadela (entre 37 – 38,5°C). Se o leite for administrado frio ou gelado, vai também baixar a temperatura do filhote.
As mamadeiras usadas devem ser aquelas próprias para filhotes de cães e gatos pois possuem um bico adequado para a abertura da boca do filhote. Mamadeiras de recém-nascidos humanos também podem ser utilizadas, pois possuem um bico menor, entretanto deve-se atentar para a abertura de saída do leite. Essa abertura deve ser tal que ofereça resistência para o filhote e ele tenha que sugar com mais força. Se o furo no bico da mamadeira for muito largo o filhote vai engasgar e aspirar o leite. Para testar o tamanho ideal do furo vire a mamadeira de cabeça para baixo. Se o leite fluir livremente, então o furo está muito largo. O leite não deve pingar livremente e somente quando levemente pressionado o bico da mamadeira.      
O filhote deve ser posicionado de bruços para a mamada, e a mamadeira deve ser posicionada de forma que o filhote tenha que levantar a cabeça para mamar. Posicione também a sua mão para oferecer apoio para as patinhas anteriores do filhote, pois ele faz movimentos com as mesmas como se estivesse estimulando a mama da mãe para a saída do leite.

VISÃO:

Os filhotes abrem os olhos por volta dos 10 a 14 dias de vida. Apesar de abrirem os olhos eles só passaram a distinguir profundidade e distância com maior definição aos 3 meses. Devido à sensibilidade à luz, deve-se evitar luz direta nos olhos dos filhotes até as 4 semanas de vida.

DESMAME:

O desmame pode ser iniciado em filhotes a partir de quatro semanas e será completado quando o filhote atingir de 6 a 8 semanas.
O ideal é a utilização de papinhas de desmame para os filhotes e várias marcas estão no mercado (Papinha de desmame Premier, Papinha de Desmame Max). deve-se obedecer as indicações do fabricante. O desmame também pode ser realizado oferecendo ração em latas para filhote, aquecida, e misturada ao leite substituto. Essa refeição será gradativamente mudada para ração para filhotes.

A responsabilidade do proprietário dos cães também envolve a escolha do novo lar, socialização do filhote, vermifugação e vacinação. Assuntos que abordarei no próximo artigo.

Literatura recomendada:


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Bem vindos ao mundo, e agora?

Escrever sobre cães com doença, procedência, raça e idade diferentes fez do Diário Veterinária meu cantinho preferido. No mês de outubro eu estou começando uma série de artigos que vão falar sobre a minha experiência com esses companheiros desde o nascimento. O objetivo será compartilhar histórias e orientar sobre as fases da vida do cãozinho, no que diz respeito aos cuidados do proprietário e clínico.
Não há melhor forma de começar como falando do nascimento.
Nessa semana nós fizemos mais uma cesárea. 
Paciente: canino, fêmea, teckel, cerca de 60 dias de gestação. Foi coberta para reprodução no intuito de venda dos filhotes.
Queixa: o proprietário não sabia qual era a data da cobertura, o animal não entrou em trabalho de parto, apresentava secreção vaginal há dois dias.
Nesse dia eu fui para a clínica, avaliei a paciente, fiz uma ultrassonografia. Os filhotes apresentavam bom desenvolvimento, batimentos cardíacos presentes e rítmicos (220 bpm), compatível com gestação a termo.
O que você, colega veterinário, deve fazer?
A pergunta do proprietário foi: Vai ou não fazer a cirurgia? Você que é o veterinário, deve dizer se deve ou não.
A minha pergunta foi: Você, que é o proprietário, e criador, quem deve me dizer quando ela cruzou.
Na ultrassonografia nós fazemos diversas medidas, avaliamos o desenvolvimento e condição dos fetos, aspecto geral, órgãos formados, e podemos predizer o tempo de gestação. Entretanto a estimativa vai variar de 2 a 5 dias. Sem contar que o tempo de gestação na cadela também varia de 57 a 65 dias, porque vai depender de quando houve a cobertura, o pico de LH (hormônio que vai estar em níveis elevados, levando à ovulação) e da viabilidade do sêmen, que pode "sobreviver" até 5 dias na fêmea. Então não depende somente do dia que ela cruzou mas sim do dia que ela ovulou.
Parto prematuro por um ou dois dias pode diminuir as chances de sobrevida dos filhotes. Problemas respiratórios, ausência dos cuidados da cadela e falta de produção do colostro são alguns aspectos que devem se considerados quando  decidir se é hora ou não de intervir. A secreção vaginal enegrecida que a cadela apresentou é evidência de separação placentária portanto, nesse momento, os batimentos dos filhotes e temperatura da mãe devem ser monitorados para decidir o melhor momento de operar.
COLEGA, NÃO REALIZE A CIRURGIA BASEADO NA ANSIEDADE DO PROPRIETÁRIO.
No segundo dia nós fizemos a cesareana.
Nasceram 6 filhotes com bom desenvolvimento e vivos.
 Filhotes com 1 hora de nascidos, sobre o colchão térmico para manutenção da temperatura
 Eu, os filhotes e o Dr Fábio, que auxiliou na cirurgia
 Eu (upando fotos), filhotes e a Dra Renata

Algumas cadelas podem rejeitar os filhotes depois de uma cesárea. Isso não é incomum, então, sempre devemos alertar os proprietários sobre essa possibilidade. Nesses casos deve-se então medicar a cadela para que deixe de produzir leite e ensinar os proprietários sobre os cuidados intensivos que os recém-nascidos requerem.
Mas isso é o assunto para o próximo artigo, Cuidados com o recém-nascido (órfão ou não).
Leia também:
Operando também?
Choque séptico
Um parto
E mais informação:
PHYSIOLOGY OF PREGNANCY AND ANESTHESIA FOR CESAREAN SECTION IN DOGS
Elective Cesarean Sections: Risks, Planning, and Timing


OBS: A cadela do caso tratado no artigo não só rejeitou como matou 5 filhotes quando foi para casa. O último filhote foi separado e será cuidado pelos proprietários.

Confiança no Veterinário

Hoje eu vi uma atualização no Facebook de um colega veterinário. Provavelmente estava em casa, descansando com a família quando um amigo apareceu para o atendimento do seu gato. Ele reclamava: "Ele se aproveita porque sabe meu endereço e vem aqui, isso não está certo, procure uma clínica de plantão."
Eu não sei o quanto eu estaria aborrecida com esse amigo também se eu tivesse relaxando em casa mas precisamos separar o que é confiança e o que é conveniência.
Tenho uma cliente que, durante outro plantão, foi atendida pela Renata. O atendimento foi o mais completo possível mas eu pedi que os retornos fossem comigo, e a Renata não se incomodou. A proprietária estava com aquele olhar de "Por que não é o seu plantão?", sempre dirigindo as perguntas a mim (que estava lá de passagem). Eu sei que ela  vai se sentir mais à vontade comigo, até conhecer o resto da equipe e passar a confiar também. O mesmo acontece com diversos clientes da Renata:
- Alô, por favor, Dra Renata se encontra?
- A Dra Renata não está de plantão, posso te ajudar?
- VOCÊ??? Não.. (risos) ... obrigada.

Não me sinto ofendida de forma alguma. Como clínica eu não entendia porque esse ou aquele cliente queria falar comigo, ser atendido por mim, mas hoje eu vejo de forma diferente... porque até eu só levo meus animais para o veterinário que eu confio.

Então eu postei uma mensagem privada para esse colega:
Meu amigo, isso não é folga, ele confia em você, e confiança é algo que demoramos para conquistar e perdemos em um segundo. Parabéns, continue fazendo o bom trabalho que você faz. 
E ele me respondeu:
Alice, você não é calma assim, estou te estranhando. Bjs

Então nasceu o  tweet: (@alicevet) me chamaram de calma, conformada, relaxada, centrada e sã. Eu to trabalhando demais, está afetando até o meu gênio.

Como eu sempre concluo as respostas no Formspring: Leve o animal no seu veterinário de confiança, e confie no seu veterinário.

Fonte da imagem


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Template do Blog

Na semana passada eu mudei o template do Diário Veterinária para um mais limpo, e provisório.
Até que o Rodrigo, o designer da clínica, e amigo pessoal, desenhe a nova imagem do blog e eu possa então criar o template definitivo.
Vou fazer uma camisa com a imagem também, para usar na Pet South America.
Por falar nisso, alguém vai?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Operando também?

Atendi um cãozinho, ele tinha 13 anos e estava com insuficiência renal aguda. Apesar do tratamento ele morreu em poucas horas. Para ser mais precisa ele deixou de sofrer em um sábado à noite, às 21 horas. Sendo o meu plantão, eu falei com o proprietário que o Kiko não havia resistido, e que eu sentia muito. E sentia mesmo. Foi uma semana difícil, muito trabalho, por mais que se dedique a gente sempre tem a impressão que deveria ter se dedicado mais. Não é fácil ser a Amélia, a mulher maravilha e no fim das contas ainda se sentir maravilhosa.
Não, o animal não morreu por falta de atendimento ou de dedicação do proprietário. Foi a doença que o matou, e a idade não ajudou na recuperação. Por mais que eu saiba disso, não é fácil terminar a semana assim.
No domingo, sem folga, eu fui para a clínica. Havia muito para terminar, prontuário para finalizar, e arrumar a clínica para mais uma semana.
Me telefonaram, havia uma cadela em trabalho de parto há 24 horas, sem sucesso. A cirurgiã da clínica estava viajando. Só estávamos eu e outro veterinário, que auxilia nas cirurgias. Eu disse: tudo bem!
Depois do exame físico a recomendação era a cesareana. Segundo a ultrassonografia havia dois filhotes, sendo um deles vivo. E na indução anestésica, foi tudo certo. Pronto, em um dia comum é até aí que eu vou, mas nesse dia eu precisava ir adiante.
Chamei o Fábio, que me ajudou na cirurgia. Beto estava lá para ajudar também, fez o papel de pediatra, mantendo o filhote aquecido enquanto operávamos. Então estávamos nós 20 na sala. Eu, Fábio, Beto, a cadela, o filhote, meu anjo da guarda, e os 14 anjos da guarda dela.
No domingo à noite eu estava com a cadela e o rebento em casa. Todos passando bem e passam bem até hoje.
Das mil formas que eu imaginei em começar essa semana, a última delas seria fazendo, com sucesso, minha primeira cesareana.



OBS: desculpem a cara de cansada,

domingo, 19 de setembro de 2010

Era uma vez um Boxer

Era uma vez um boxer que nasceu fraquinho. Ele era o menor da ninhada e seus irmãos não o deixavam mamar. Sobreviveu como pôde e no final do desmame os mais fortes foram embora, e ele morou com o papai e a mamãe. Difícil era a vida até então mas a ração ele já conseguia comer sem disputar.
Até que uma noite estava frio e ele dormiu embaixo daquele carro bem quentinho. No sono profundo ele não percebeu que o carro ia saindo até quando passou por cima dele acidentalmente. Os mestres do papai e da mamãe prontamente levaram o refuguinho para o doutor, que tratou de colocar as "peças" no lugar. Acharam que não fosse sobreviver e ele pensava "não, gente, ainda sou bebê, ainda tenho que brincar, ai ai ai... tá doendo... bola? isso é uma bola? ahhh, não consigo brincar agora, vou dormir, amanhã eu brinco". E decidiram chamá-lo Bolinha.
E o Bolinha cresceu. Não corria como os outros mas corria como podia. Brincava, o tempo todo que estava acordado, cheirava os cantos, as pessoas, as plantas... mas não mais os carros. Corria com uma cadência própria, meio de lado, como se mancasse e rebolasse mais que qualquer outro boxer.
Então um casal de mestres resolveu levá-lo para outra casa. Agora a casa era só dele. E ele tinha um espaço enorme para cheirar e descobrir, e novos mestres para amar. Então depois de pouco tempo chegou outro cachorro, todo desarrumado. Ele parecia ter nascido errado porque não tinha o focinho achatado: "Veio estragado de fábrica", pensou o Bolinha, e seus mestres resolveram chamá-lo de Pequeno.
Um dia o Bolinha ficou com um dodói na cabeça, que coçava, coçava, e nunca sarava. O mestre levou no doutor de novo que tratou de dar para o Bolinha o capacete mais legal que qualquer boxer poderia ter. Era difícil dormir ou comer no início, e se antes o Bolinha não identificava de onde vinha o chamado, agora então que era mais complicado. Mas o Pequeno invejou aquele capacete e o Bolinha se sentia mais especial. A mestra insistia em chamar aquilo de colar elizabetano, e o Bolinha pensava "colar é coisa de menina, isso é o capacete da sabedoria". 
Todos os dias os mestres passavam pomada no dodói para melhorar e quando eles se afastavam o Bolinha perguntava para o Pequeno: E aí, melhorou o dodói?
"Não, não sei, não dá pra ver, tem uma coisa branca em cima, deixa eu lamber pra tirar"....... "pronto, tirei... não, Bolinha, não melhorou ainda, mas tá quase."
Então a irmã do mestre, que também era doutora, falou que o Bolinha tinha que tomar um comprimido duas vezes por dia, e usar o capacete da sabedoria mais tempo. Mas também ela era ruim, furou o Bolinha, tirou sangue dele para fazer um exame e os mestres ficaram apreensivos. O Bolinha agora chamava os remédio de pílulas do poder. E o Pequeno não tinha inveja, mas muita admiração por aquele irmão mais velho.
Depois de uns dias os mestres do Bolinha estava muito felizes, o dodói já havia sarado e eles abraçaram os dois, dizendo: Que bom Bolinha, você não tem leishmaniose, que felicidade. O Bolinha pensava: "Mas é claro que eu não tenho, ninguém me deu isso, você tem, Pequeno?"
"Não, Bolinha, não tenho também, ahh, ninguém me dá nada".
E eles continuaram o dia a dia, agora sem o capacete da sabedoria ou os comprimidos do poder mas o Bolinha havia completado o ciclo do crescimento, era oficialmente o chefe daquela matilha de dois cães, e um gato como intruso.
A mestra até que deixava o bando entrar em casa quando o mestre não estava, mas eles sabiam que deveriam sair e cuidar de todo espaço lá fora. Essa era a função deles. Cuidar da casa que lhes dava tanto amor.
Então uma noite os mestres saíram e os deixaram em casa. Já estava bem tarde quando o Bolinha ouviu um barulho. Era alguém entrando na casa deles, sem ser convidado. Um convidado nunca tentava entrar pela janela, e o Bolinha não pensou duas vezes quando mordeu aquele homem indesejável. Na verdade considerando a raça, o Bolinha nunca pensou duas vezes em nenhum momento na vida. 
O homem então gritou, tentou afastar o Bolinha, que chamava de boca cheia: "Vemm Pequeno, não deixe esse homem entrar na nossa casa." até que PÁ!. Foi um barulho muito alto, e o Bolinha sentiu uma fisgada no pescoço. 
Com a boca cheia se sangue, sem saber se era dele ou do homem, ele não soltou, e o homem ainda gritava quando o Bolinha enfraqueceu e o deixou partir. "Vem Pequeno, vamos atrás dele, ele não pode fugir"... mas o homem já ia bem longe, e o Bolinha ficou cansado. 
Já bem distante da casa, os dois viram quando o homem ia embora e o Bolinha sentou-se. "Vamos ficar aqui, Pequeno, vigiando, ele pode voltar" 
"Bolinha, aquele homem te machucou"
"Não importa, Pequeno, senta do meu lado que eu vou te contar uma história.... 
Nem sempre eu fui o chefe da matilha, na verdade eu era o menor de todos e ninguém acreditava que eu fosse sobreviver. Quando o carro passou por cima das minhas pernas eu fui levado para um doutor que me deu um remédio para dormir enquanto me consertava. Nesse dia eu sonhei com um homem que me disse: 'Bolinha, seja forte, porque você tem uma missão. Você vai ter uma vida mais difícil, mas será muito feliz. Você vai viver com uns mestres que te amarão profundamente e vão cuidar para que você cresça forte e saudável. Bolinha, na verdade você será o dono deles e terá que cuidar deles para sempre. Um dia vão tentar  machucar os seus mestres, invadir a casa deles e será sua missão não deixar que isso aconteça. Bolinha, se você falhar, o homem ruim vai esperar seu mestre voltar para casa e machucá-lo muito, e cabe a você não deixar que isso aconteça. A sua vida na Terra, Bolinha, vai ser abreviada nesse dia, mas você continuará presente como um anjo daquela família. Lembre-se Bolinha, seja forte, você não pode falhar.'
E foi assim Pequeno, por isso que eu sempre usei o capacete da sabedoria, e tomei as pílulas do poder. Para ser forte e hoje passar para você a sua missão. Eu agora preciso dormir, estou cansado, fique aqui do meu lado, fique vigiando esse lugar. Agora, Pequeno, eu passo para você a missão de cuidar dos mestres. Na terra. E eu estarei presente também, você só não vai me ver sempre, mas de vez em quando. Se bobear, eu como a sua ração... eh eh eh."
"Entendi Bolinha, chega pra lá, vou deitar aqui do seu lado, fico com você até você dormir. E quando o mestre chegar eu vou contar para ele onde você está, para que ele possa te levar para casa."

Este post foi dedicado ao meu irmão e sua esposa, que perderam seu companheiro, o Bolinha, na madrugada de 18/09/2010, em uma tentativa de assalto. Sejam fortes e lembrem-se que ele estará sempre presente.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

I Workshop sobre Ciência Animal na Bahia


O programa de mestrado que eu cursei está promovendo o I Workshop em Ciência Animal. Para os profissionais e estudantes da região eu recomendo que participem.

O Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais (DCAA) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) por intermédio de professores e alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, estará realizando no período de 20 a 22 de outubro de 2010, o I Workshop sobre Ciência Animal na Bahia.
Este evento abrangerá 17 temas importantes relacionadas com inovações científico-tecnológicas e os desafios para a ciência animal nos trópicos, que serão abordados por renomados pesquisadores de diferentes instituições de ensino e pesquisas.
Objetiva-se promover o encontro das diversas áreas da ciência animal para oferecer a estudantes, pesquisadores, profissionais e produtores rurais, maior suporte técnico-científico, bem como uma oportunidade de atualização dos seus conhecimentos, como os avanços que vêm ocorrendo no setor.

Leia mais em

http://www.cienciaanimaluesc.com.br/

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Anuário, mesário, diário, horário

O Diário Veterinária, que foi criado com o propósito de descrever de forma descontraída o dia a dia do médico veterinário, está há quase 2 anos no ar.
Nesse tempo houve diversos acessos no Brasil e no mundo e a colaboração com muitos comentários dos fiéis seguidores.
Sem contar aqueles que entraram em contato por e-mail e formspring.
Hoje eu criei outra conta no TWITTER que vai concentrar informações de veterinária, mostrando que o diário também pode se um horário, ou minutário, e até segundário.
Acompanhem no Twitter @diariovet

GEEK CATS

Conheçam o portal GEEK CATS que expõe de uma forma descontraída o comportamento desses felinos que alegram a vida de muitos gateiros e veterinários. Segundo o site Mundo Tecno o blog é escrito pelo casal Michelle e Leandro que produzem quase que diariamente tirinhas de humor com histórias de seus próprios gatos, o Mike, a Nina e a Isis. A história do blog e do humor começou quando a paixão de Michelle em desenhar se uniu ao talento de escrever de seu marido, que cuida da divulgação, da parte técnica do blog e outros assuntos que não o próprio desenho.
Hoje o blog é uma terapia de casal, que os uniu mais e mostrou como respeitar o trabalho de cada um e apoiar um ao outro. Tão importante é o blog na vida do casal, que o Leandro está fazendo seu MBA com base nele!
Fonte da tirinha.
Tenho o prazer em divulgar o Portal:

GeekCats

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Boxer - Veterinária - Gato

Eu tenho uma boxer, a Rebeca. Eu não sei o quanto ela evoluiu desde que nasceu mas, vamos considerar que a vida de um cão dure 13 anos: O quanto se evolui nesse tempo? Hoje ela tem quatro anos, e vive em regime de liberdade, isto é, tem acesso à minha casa e ao quintal, mas prefere ficar na varanda. Ontem eu cheguei de carro e ela veio me recepcionar. Como sempre o ritual é o mesmo, ela pára do lado do carro e fica olhando para a porta de trás, esperando que eu saia para poder me cheirar. Mas, como motorista, eu estou na porta da frente, a vendo  olhar fixamente para porta de trás. Então eu abro um pouco o vidro e a chamo, quando ela olha para trás, para cima, dá dois pulos e corre pelo quintal. Em poucos segundos ela volta e pára ao lado do carro, olhando para a porta errada. Qual não é sua surpresa quando eu saio pela porta da frente e ela vem me cheirar. Cheira a roupa toda, as mãos, o sapato, a sola do sapato, e pára, me olha, como se perguntasse: É minha mãe mesmo? E cheira de novo. Depois seguimos para a casa e nesse trajeto ela vem pulando ao meu redor, e se contorcendo toda.
De longe estão os gatos, só olhando a situação e provavelmente pensando: A qual papel se presta esse cão? Eles não têm muita paciência, são três, a AK47, o Panda e a Sushi. A AK47 só aparece para comer, reclamar com o Panda e, quando está de muito bom humor, recepciona meu marido no carro. O Panda brinca com todos pela casa, come e briga com o gato do vizinho. E Sushi é mais carinhosa, fica à vontade pela casa e adora me amassar quando eu estou no sofá ou deitada na cama. Pode me amassar por horas seguidas.




E no meio dessa cadeia de evolução espiritual estou eu. É, porque se eu for acreditar que um espírito passa por várias encarnações, sendo humanas e animais para atingir um nível tal e considerando o cenário acima eu digo que o espírido vem novinho em folha como um boxer. Porque ele é feliz, ele ama, ele não pensa muito, ou nada. Ele se envolve, não enxerga o que é feio nos outros, é empolgado e otimista, é impulsivo e não é sábio. Quando ele decide virar-se e correr para a porta em 90% das vezes há um obstáculo que ele se bate no caminho.
Depois o espírito volta como um humano, provavelmente veterinário. Aos poucos descobre que o cérebro serve para pensar e ele pensa muito nos outros. Também tende a acreditar nas pessoas e já não se bate em 90% das vezes nos obstáculos. Até desvia deles se tiver um pouco de prática. No início da profissão o veterinário vai pensar mais nos outros do que em si próprio, até que, com o tempo, ele vai aprender que pensar nos outros deve se limitar aos animais, porque uma parte dos humanos é adorável, mas outra não está nem aí para todo o seu esforço e dedicação, muito menos para o próprio animal.
Depois ele volta como um gato para encerrar no auge  da sabedoria e um pouco de intolerância. Ele observa mais, talvez por ter se entregue tanto em outros momentos, agora ele precisa de mais confiança. Ainda mete os pés pelas mãos mas sempre cai em pé e com elegância, a ponto de, apenas se você conhece-lo muito bem, saberá que algo saiu errado. O gato também ama mas não faz mais o papel de bobo. Ele acredita que o mundo ainda precisa evoluir para ser considerado um lar, mas esquece de todas as teorias e paradigmas quando encontra um colo quente.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Curso de Ecodopplercardiograma


Em continuação ao post Ecodopplercardiografia...
Depois de trocarmos o aparelho de ultrassom por um que tivesse a ferramenta de doppler colorido, eu precisei fazer um curso de ecocardiografia, não adianta ter e não saber usar.
Confesso que até o dia do curso eu ligava o doppler para verificar circulação nas estruturas, para a tela ficar mais colorida e fazer o barulhinho do batimento do coração do cachorrinho.
Então eu procurei uma série de cursos sobre o assunto na internet e encontrei alguns bem interessantes:

Kardiovet
Provet
Echoa

Decidi fazer o curso do Instituto Kardiovet, que aconteceu de 26-30 de Julho/2010, em São José do Rio Preto. Enquanto eu procurava por hotéis e passagens de avião, me peguei várias vezes digitando São José dos Campos e até a data do curso, eu ficava com medo de acabar indo para o lugar errado.
Fiz uma pesquisa e segundo o mês do ano, considerando o estado de São Paulo, eu sabia que estaria frio. Só não pesquisei a meteorologia, parecia óbvio. Quando cheguei em São José do Rio Preto percebi que aquela cidade é uma exceção no frio, e os 27 kg em casacos que eu levei me serviram para dar trabalho e destruir a minha mala.
Por contato pela internet eu conheci outros dois colegas do curso e o terceiro eu conheceria no primeiro dia. Esse em questão errou a cidade e foi parar em Ribeirão Preto e, depois de uma noite no taxi, conseguiu chegar a tempo de pegar a primeira aula.
Acabamos ficando no mesmo hotel, no centro, que estava a 12 reais do curso, ao lado de um MC Donalds, 200 farmácias e bons restaurantes.
Eu achei que fosse encontrar bastante dificuldade no curso porque, apesar de ser em imagem, a minha experiência em cardiologia é limitada. Entretanto não foi tão difícil quanto eu imaginava. Na realidade foi muito fácil e divertido.
O curso foi muito interessante porque não abrangeu somente a técnica mas também o caso clínico do início ao fim, com pinceladas em fisiopatologia, alterações clínicas e no ECG e tratamento.
Não foi o tipo do curso que se sai com a impressão de que ficou faltando algo, ou a carta na manga não foi revelada. Eu provei e aprovei.
Gostei bastante do aprendizado, da estadia no hotel, e dos amigos que eu fiz.
Claro que adorei o Mc Donalds e a papelaria Kalunga que tinham na esquina. E também tinha esse mercado que ficava aberto até às 22 h, aonde comprei lembrancinhas e um zippo vermelho de R$ 4,99.
Os contatos que eu fiz no curso também foram excelentes. O Ricardo é veterinário em Boa Vista, a Márcia em Fortaleza e o André trabalha em Salvador.
A única coisa que não gostei foi o tombo que eu tomei na garagem do hotel, na frente dos meus colegas, no último dia...e mesmo para uma estabanada como eu, ainda sinto que saí no lucro de SJ dos Campos... digo, do Rio Preto.

OBS: O link PROVET não dá acesso ao curso atualmente (10/09/2010), pode ter sido tirado do ar por já ter acontecido.
fonte da imagem

Voto Pelos Animais - WSPA

Nessas eleições nós estamos decidindo pelo futuro do Brasil.
Decide-se pela saúde, pela educação, pelo emprego, pelos direitos, pelas indústrias, por uma pilha de tijolos e uma cesta básica.
Há muitas razões para se decidir por esse ou aquele candidato, vou apresentar só mais uma...

A Sociedade Mundial de Proteção aos Animais apresenta um trabalho com candidatos que são "Amigos dos Animais", isto é, apresentaram ou participaram de algum projeto que teve como prioridade o Bem Estar Animal.


Claro que o voto não deve ser fundamentado em uma só razão, ainda deve-se checar o passado dos candidatos e escolher aquele que melhor atender à sua necessidade de cidadão.
Fica a dica para quem precisava de só mais um motivo para votar no candidato preferido ou a título de curiosidade, para você saber em que andam trabalhando por aí em prol do bem estar animal.


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O dia do Médico Veterinário - 9 de Setembro

Eu não estou mentindo se falar por todos os veterinários que há prazer em comemorar no nosso dia.
Não sei se o médico, ou o fisioterapeuta, ou o administrador (que também comemora em 9 de Setembro) aproveitam também o dia das suas profissões, mas a cada Nove de Setembro eu me sinto renovada.
Como qualquer outro batalhador da profissão eu comecei sem saber nada e até agora ainda sinto que há muito para descobrir.
Todos os dias eu levanto com uma programação entre clínica, inspeção e atendimento e é incrível como na maioria das vezes as coisas não andam como eu programei.
Tudo que sai como planejado é só um motivo para seguir em frente, tudo que sai de errado acaba sendo milhões de motivos para dar um passo para trás e descobrir o porquê.
Então a gente senta, estuda, pensa e chora. No final das contas vê que precisa melhorar, aprender e batalhar mais um pouco.
E assim o veterinário corre atrás do colega, de fazer um curso, de comprar um aparelho, de saber mais.
Não conheço o veterinário que deixou a profissão pelas adversidades, mas conheço muitos que melhoraram por causa delas.
Então, nesse Dia do Veterinário, o que eu desejo aos meus colegas são desafios instigantes e absurdos e, mais do que isso, a paz de espírito para resolvê-los.
Aproveite seu dia, colega. Feliz dia do Médico Veterinário

Fonte da imagem

domingo, 8 de agosto de 2010

Animada no dia dos Pais

Hoje é dia dos Pais e eu fiquei pensando em falar sobre paternidade ou em mais um feriado de plantão.
Como muitas pessoas eu não tenho com quem comemorar esse dia e, apesar de haver várias figuras paternas na minha vida, não é o mesmo que abraçar aquele que supostamente é o primeiro herói de uma menina.
Mais chato que isso é ser a única veterinária da clínica a não ter um pai vivo e então aquela que pode livremente ficar de plantão nesse dia.
Comecei atendendo um cão que fez uma cirurgia de pálpebra e não teve seus pontos retirados por completo, sendo então necessário o atendimento, em domicílio, para evitar uma lesão na córnea. Depois passei na clínica para medicar uma gata internada, que me odeia. Ela simplesmente me odeia, não perde qualquer oportunidade para me arranhar, então, imagine só a minha animação às 11 da manhã, quando eu parti para o atendimento.
Ao chegar na clínica eu fiz um exame físico geral na Cindy, coloquei ração, troquei a areia e fui pegar o medicamento quando ela miou.
"Que foi Cindy, agora você quer bancar a boazinha, é? Tá querendo me enganar para quando eu bobear você saborear parte dos meus dedos no seu almoço de dia dos pais?"
"Miauuuu.... "
"Hum, sério Cindy, que foi agora?"
"Miauuuuuu.... prrr"
Eu não acreditei na carência partindo da Cindy, afinal de contas, eu a atendo há mais de 5 anos e ela sempre me detestou. Antes de medicá-la eu resolvi tentar passar a mão na sua cabeça e depois de dois minutos de carinho ela estava deitada de barriga para cima, ronronando, e pedindo mais ração.
É, não pude deixar de pensar que para quem começou o dia com uma vontade enorme de abraçar o pai, naquele momento eu não era a única, e aquilo foi exatamente o que eu precisava.
Feliz dia dos pais a todos os veterinários papais. Segue um pouco de risada...
Fonte da tirinha: http://geekcats.com/br

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Jeito com as coisas

Eu confesso que não tenho muito jeito com as coisas. Não sei se isso se configura desatenção, brutalismo, falta de coordenação motora ou um "jeito" Alice de ser (como já me falaram) mas diariamente, acontece um infortúnio comigo que varia de pequeno acidente a catástrofe.
Na época da faculdade me lembro de ter derrubado o soro de um cachorro inconsciente ao tentar amarrar o cabelo, o que rapidamente despertou o mesmo. Também cansei de cair na cantina, derrubar o lanche dos outros, dar banhos de coca-cola nos amigos, dentre outras coisas.
Agora, se o veterinário responsável pelo seu cão acerta a cabeça no porta papel toalha no meio da consulta, o que pensar? (duas vezes)
Uma vez eu acordei atrasada, me vesti rápido, engoli o café da manhã e estava atendendo já o quinto cachorro naquele dia. Quando eu vou preencher a receita, que olho para baixo, vejo que tinha uma mancha na minha blusa, de nescau (maldito leite com nescau) que vinha do peito até o umbigo. Imagino o que todos os 5 proprietários que eu atendi não pensaram... certamente foi de "gordo é fo**" pra pior.
Enquanto eu ainda mantenho os pacientes salvos vale tudo, de tropeçar no fio do foco cirúrgico a cortar 'levemente' o braço da Renata com bisturi durante uma cirurgia (ela se vingou me furando com uma agulha na mesma semana).
Com o tempo eu passei a ser mais cuidadosa nesse sentido. Depois de muito treino e atenção eu não tenho sofrido sérios acidentes na clínica.. reservo para os momentos de lazer (tropeçando e caindo quando ando na avenida), no trânsito (derramando café no banco do carro), e até nas reuniões mais importantes no frigorífico com os fiscais do SIF (derrubando dois quilos de camarão fresco no chão).
O engraçado é que em casa eu geralmente não passo por nada disso. Acho que a intenção do conceito estabanada não envolve só derrubar as coisas que não deveriam ser derrubadas ou acertar a cabeça em locais que causam dor mas, principalmente, envergonhar o desastrado ao extremo. Se o autor da catástrofe não se importa, o acompanhante é quem mais sofre e isso leva a muita piada, gozação e até ao fim do relacionamento.
Frases que me acompanharam nesses eventos:
"Então, doutora, ele estava bem até ontem e" BAMMM "Nossa, doutora, isso doeu?"
"Que nada, besteira..." - tosador (sem medo de perder o emprego) rindo
"Essa é a veterinária responsável pelo frigor..." SPLASHHHHHH... "Meu Deus, Alice"
"Ahh Alice, que besteira, você deveria ter dito.. 'conheçam nosso novo prato, camarão ao chão'"
"Denys.... conserta aqui a tomada da extensão que eu arranquei de novo quando tropecei... boraa Denys, essa m**** fica no meio do chão, é uma armadilha"
"Alice.... meu Deus, larga isso, deixa que eu sirvo o café."
"Mas eu não derrubei, mãe"
"Ainda, Alice."
Fonte primeira imagem
Fonte segunda imagem

terça-feira, 13 de julho de 2010

Novo emprego

Já passou um mês que eu não passo por aqui, isso é um absurdo.
Deixe eu contar então..
Notícias boas são que eu sobrevivi nesse um mês, não olhei mais para a dissertação até duas semanas atrás, voltei para a rotina na clínica e nos frigoríficos e, desde a semana passada, estou brincando de gerenciar um petshop?
Por que? Porque a minha vida estava muito sossegada, quase nada para fazer ou resolver, então pensei: um pouco mais de trabalho não faz mal a ninguém.
Agora estou trabalhando igual gente grande, de segunda a sábado, das 8 às 18.
Sem contar que a clínica que estava acostumada a me pegar de pernas para cima em casa a qualquer dia está tendo que se acostumar a me ver apenas nos plantões e à noite, para ultrassonografias de emergência.
Nos horários que estou em casa nem olho para a louça (já não olhava, mas agora eu tenho a desculpa), não tenho mais tanta paciência com meus bichos (idem observação anterior), passo horas escrevendo relatórios, e-mails sem tempo para meus passatempos preferidos, como joguinhos de guerra e campo minado (fala sério!). Orkut e Facebook então? entregues às traças, tive que abandonar os jogos em flash nada viciantes como Colheita Feliz, Café World e Café Mania, que me levaram horas esperando amadurecerem, ficarem prontos... todos foram deletados.
O salário é bom e o trabalho não é tão pesado mas esse emprego trouxe para a minha vida algo que eu não esperava mais viver.. horas perdidas esperando o ônibus, dentro dele, e seguindo da parada para o destino.
O pet shop é na cidade ao lado então quando eu falo horas eu quero dizer HORAS mesmo. Quando o ônibus está cheio eu não posso mais fingir que estou grávida para conseguir lugar, pois emagreci, e se eu o fizer vou passar apenas por uma magra maluca cara de pau.
Ontem eu fui alegremente para a parada do ônibus, levando comigo um maltês de um quilo dentro de uma caixinha de transporte, o pobrezinho está internado comigo nessa semana. Depois de pagar a passagem e querer morrer porque não havia lugar para sentar, uma moça do fundo se levantou e disse: Que coisinha linda... pode sentar aqui senhora, tadinho do cachorrinho tá dodói!
Dessa vez a fofura do moribundo me rendeu um lugar, mas, e da próxima?


Fonte da imagem utilizada

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Aniversário da Casa do Bicho - 5 anos

Segundo o Sebrae, 45% das microempresas fecham em menos de dois anos e esse é só mais um motivo que a Casa do Bicho, empresa que tive o prazer de participar da fundação, tem para comemorar em seu aniversário de 5 anos.
Eu estou trabalhando com clínica de pequenos animais desde que me formei, comecei com um pequeno consultório dentro de um petshop e um ano depois decidi abrir a Casa do Bicho, com uma sócia, a Renata.
Quem acompanha o blog há mais tempo vem ouvindo um pouco das minhas histórias, participando que do que considero um sonho que se realiza de forma diferente a cada dia.
Afinal, a vida do clínico de pequenos animais é assim, aos trancos e barrancos se realizando diariamente. Há dias que dá vontade de desistir de tudo voar para longe. Há dias que dá prazer em ser veterinário e pensar "Será que alguma vez eu ja quis ser algo diferente?"

Eu encaro essa vida de clínica como uma plantação que deve ser regada todos os dias, mesmo quando o sol está muito forte para sair de casa. E quando chove, a gente descansa. Um dia os frutos amadurecem e devem ser colhidos, e outros devem ser plantados no seu lugar.
Na semana de comemoração do quinto aniversário da Casa do Bicho nós fizemos diversos kits para presentear os animais com amostras de ração, biscoitos e ossinhos para os cães e gatos Os clientes também foram bajulados com refrigerante, salgadinho e doces.
Agradeço a todas as empresas que colaboraram com nossa comemoração, em especial à Purina ProPlan, Pedigree, Royal Canin e Ecovet.

Pesquisa do Sebrae sobre as pequenas empresas

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Defesa da Dissertação

Agora é oficial.. recebi o convite do Coordenador do Programa de Pós Graduação em Ciência Animal da Universidade Estadual de Santa Cruz, e posso compartilhar com vocês:

"Prezados Docentes e discentes,

Convido a todos para a defesa de dissertação de ALICE RIBEIRO DE OLIVEIRA LIMA ALBUQUERQUE que será realizada no dia 28/05/2010 as 08:30h na sala 03 do pavilhão de aulas do Hospital Veterinário .

tITULO: Efeito da folha da gravioleira (Annona muricata L.) como terapia alternativa/complementar ao sulfato de vincristina, em casos de Tumor venéreo transmissível canino (TVTc)

BANCA EXAMINADORA: 
Roueda Abou Said – UESC (Orientadora); Fabiana Lessa Silva – UESC; Maria Lúcia Zaidan Dagli – USP

Att,

George Albuquerque
CoordeNAdor" 

Quero convidar a todos que moram por aqui, e até os que não moram, para participar desse evento comigo. Quero também agradecer a paciência por dias e dias sem posts novos por culpa dessa dissertação. Confesso agora que terminou que não foi só culpa da redação da dissertação, mas também:
Do orkut, do Facebook, do jogo online Battlefield - Project Reality e principalmente... do Campo Minado.
TORÇAM POR MIM

Fonte da imagem

terça-feira, 25 de maio de 2010

Marido de veterinária - II

Acabo de chegar de um atendimento emergencial.
Há cerca de 2 horas me liga uma cliente, dona de gato. Quem conhece o dono de gato sabe muito bem que ele tem duas características principais, segundo Dr Achivaldo:

1- Ele não cria gatos, ele os coleciona. O prazer do dono do gato é adicionar gatos à sua gataria particular;
2- Ele trabalha incessantemente com o objetivo de engordar seus gatos.

Esse gato não era diferente. Chefe de uma quadrilha felina que envolvia outros quatro gatos, o SRD Júlio pesava exatos 9,8 kg de mimos.
Nesta noite o felino em questão quebrou um vaso, cortou a pata e sangrou pela casa inteira.

Um adendo especial nesse atendimento, ao me ver me arrumar para a emergência, o digníssimo esposo logo se prontificou: Quer que eu vá contigo?
Eu estranhei tamanha bondade e logo pensei: ou está com ciúmes, ou sem sono.
Nada comentei, afinal, poderia afugentar o prince charming que me acompanharia.
Após 20 minutos da ligação recebida, exatamente às 23:20, chega a proprietária esbaforida:
- Bom dia doutora... ops!.
Eu respondo: Ainda não senhora, mas daqui a algumas horas!
Ela sorri e entra consultório adentro.
Ao ver o digníssimo, o dona do gato logo diz: Vixe, doutora, achei que estivesse sozinha, vim bem à vontade.
A senhora vestia uma camisola mais curta que meu salário, carregando o gato com cara de susto, dedos abertos e uma pata toda suja de sangue. Atrás vinha sua filha, suando e respirando com dificuldade.
- Não tem problemas, senhora, vamos ver o que temos aqui.
A hemorragia já havia estancado e após limpar a lesão com água oxigenada eu localizei corte em questão. Tive um pouco de dificuldade, era minúsculo e estava compromentendo apenas pele.
Realizei tricotomia ao redor e passei uma pomada com antibiótico.
Enquanto isso a mãe dizia: Minha filha, segure um pouco o Júlio.
Ela respondia: Não mãe, você não fala para todo mundo que carregou esse gato na barriga nove meses? Então agora segure a senhora. É verdade doutora, ela fala isso para todo mundo. O gato não pode ter nada que ela fica maluca. Eu estou aqui, com febre, acabei de tomar a vacina contra H1N1 e .... olha aqui, doutora, estou suando. Esse gato faz o que quer, ele entra no meu carro e mija no painel e...
Nesse momento meu marido se sentiu no direito de fazer um comentário que muito lhe custará nos dias que estão por vir...
"Se fosse meu gato eu dava um tiro"
Eu quis entrar no minúsculo corte na pata do gato de tanta vergonha.. comecei a rir como uma abestalhada:
"Como assim um tiro.. ahaha, você está hilário essa noite!" E lhe lancei um olhar mortal que toda mulher sabe fazer e congela o peito de qualquer homem.. mas ele não olhava para mim.
"Um gato mijar no painel do meu carro?? Tomava um tiro"
A proprietária sorriu e eu acrescentei: Dava tiro nada, vocês sabem porque que eu tenho 5 gatos? Ele que os pegou na rua, os gatos fazem o que querem com ele..
Não satisfeito ele completou: Mijo de gato fede demais.
E eu aproveitei: Fede, fede mesmo, mas você não liga quando os cinco dormem com você.. ahaha, ele adora gatos.
Claro que os únicos 3 gatos que temos não dormem com ele, mas ele entendeu na hora.
"Sim, sim, ehehe adoro gatos.. por mim criava mais... mas esse Júlio é lindo mesmo"
A proprietária voltou a sorrir e abraçar seu felino enquanto meu digníssimo o enchia de elogios.
Ao final do atendimento, ela agradeceu, pediu para ver minha tatuagem de gato e eu logo acrescentei que o digníssimo também possuía uma, de tanto amá-los, mas estava por baixo da roupa.
Ela saiu feliz, eu saí feliz e o único que não estará feliz, pelo menos essa noite, será o meu acompanhante especial.
Colegas veterinárias: nunca levem seus maridos para um atendimentos a não ser que seja muito necessário ou se os mesmos forem mudos.

Fonte da imagem: http://www.jornaldosamigos.com.br/gato_gordo.jpg

domingo, 25 de abril de 2010

Por que os animais sofrem?

Nessa semana eu trabalhei em um animal com Insuficiência Renal. Mas não quero, hoje, falar sobre a doença, fisiologia ou tratamento, mas sim sobre a minha percepção. Depois de trabalhar várias horas para manter o animal hidratado e sem sofrimento, eu estava cansada. Não podia mais pensar ou ouvi-lo chorar. Quando um amigo me perguntou:
"- Alice, você acredita em reencarnação?" Eu disse que não, mas que não queria falar sobre religião naquele momento... estava cansada, estressada. Então ele insistiu "Alice, me ouça. Se você não acredita em reencarnação, então a vida desse animal é única. É a única vida que ele teve e terá. Você deve, então, pensar na sua função agora, que é insistir nessa vida, cuidar, tratar e, se possível, curar. Quando não há mais nada o que fazer, peça a Deus, ou a quem você acredite..."
Em seguida ele me enviou um texto que fala da percepção espírita sobre o sofrimento dos animais. Resolvi então transcrevê-lo, pois, se não servir para instrução, que sirva então para consolo.


Se os animais estão isentos da lei de causa e efeito, em suas motivações profundas, já que não têm culpas a expiar, de que maneira se lhes justificar os sacrifícios e aflições? Assunto aparentemente relacionado com injustiça, mas a lógica nos deve orientar os passos na solução do problema. Imperioso interpretar a dor por mais altos padrões de entendimento.
Ninguém sofre, de um modo ou de outro, tão-somente para resgatar o preço de alguma coisa. Sofre-se também angariando os recursos precisos para obtê-la.Assim é que o animal atravessa longas eras de prova a fim de domesticar-se, tanto quanto o homem atravessa outras tantas longas eras para instruir-se.
Que mal terá praticado o aprendiz a fim de submeter-se aos constrangimentos da escola? E acaso conseguirá ele diplomar-se em conhecimento superior se foge às penas edificantes da disciplina? Espírito algum obtém elevação ou cultura por osmose, mas sim através de trabalho paciente e intransferível.O animal igualmente para atingir a auréola da razão deve conhecer benemérita e comprida fieira de experiências que terminarão por integrá-la na posse definitiva do raciocínio.
Compreendamos, desse modo, que o sofrimento é ingrediente inalienável no prato do progresso.Todo ser criado simples e ignorante é compelido a lutar pela conquista da razão, e atingindo a razão, entre os homens, é compelido igualmente a lutar a fim de burilar-se devidamente.
O animal se esforça para obter as próprias percepções e estabelecê-las.O homem se esforça avançando da inteligência para a sublimação.
Certifiquemo-nos, porém, de que toda criatura caminha para o reino da angelitude, e que, investindo-se na posição de espírito sublime, não mais conhece a dor, porquanto o amor ser-lhe-á sol no coração dissipando todas as sombras da vida ao toque de sua própria luz.


Texto transcrito do artigo: http://www.partidaechegada.com/2008/09/animais-em-sofrimento.html

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Formspring (Parte 6)

Mais algumas perguntas respondidas no Formspring. Muitas delas acabam me rendendo artigos para postar, onde eu coloco mais dados, elaboro melhor o texto para responder às dúvidas.
Obrigada por perguntarem no FORMSPRING.

Olá, sou Rebeca, também vet., do Paraná. Recebemos um animal de 1 ano, Lhasa, corpo estranho (caneta). Depois de operado (e bem), o dono pagou e pediu eutanásia - não queria mais o animal. Já aconteceu uma dessas contigo? Tem gente q n merece o cão
Não aconteceu comigo não. Já tive pedidos de eutanásia por causa de infestação por carrapatos, por causa de "sarna" que ninguém cura. Mas até hoje a gente conversou um pouquinho, e acabou convencendo a tratar ou doar o animal. Na semana ouvi queixas de uma veterinária que atua em SP e tem passado por situações assim, como a sua, em clínicas para clientes de altíssimo nível financeiro, e que freqüentemente há pedidos de eutanásia para animais que estão dando trabalho, ou os proprietários enjoaram. Muitas vezes não querem se dar ao trabalho de cuidar de um problema simples de pele e mandam eutanasiar, já com outro em vista para comprar. É por isso que eu sempre falo que cadela deveria parir UM filhote só, para serem bem caros e quem sabe assim as pessoas valorizarem mais.

Tenho visto muitos casos de tumor de mama malignos em cadelas de amigos. Alguns vets. indicam quimio, outros dizem que não vale o custo/benefício/sofrimento do animal. Qual a sua opinião quanto a quimio? Vc realiza? Vale a pena? ~ Amanda
Amanda, existem muitas questões quando falamos de neoplasias mamárias. Existem alguns tipos de neoplasias mamárias, elas podem ser primárias da glândula mamária ou secundárias, isto é, serem metástase de outra neoplasia. Mas, se estamos falando de neoplasia mamária primária, aí vem a pergunta: maligna ou benigna?
O clínico deve fazer o estadiamento da lesão, isto é, ver em qua STATUS aquele tumor está. Se foi uma neoplasia encapsulada, localizada, sem metástase em linfonodos, o prognóstico é melhor, mas se já houve metástase em linfonodos (gânglios), o prognóstico passa a ser reservado. Dos carcinomas e adenocarcinomas mais comuns existem os mais simples e os mais agressivos, como o carcinoma inflamatório.
Tá vendo, não é tão simples falar de tratamento quando não são respondidas essas questões então vamos imaginar uma situação: é apresentada uma cadela com histórico de uso de anticoncepcional, não castrada, com nódulos nas mamas, dos 5 pares, 2 estão acometidos, tanto direita quanto esquerda e os nódulos não passam de 0,5 cm em cada mama. A indicação será cirurgia, com mastectomia parcila ou total podendo ser realizada na mesma cirurgia ou em 2 cirurgias. Retirada também dos linfonodos.
Nesse caso, enviamos o material todo para exame histopatológico (bióspsia), tanto os tumores quanto os linfonodos. Digamos que o resultado foi de um carcinoma simples tubulopapilar sem acometimento dos linfonodos e com as bordas da ferida livre de lesão, isto é, todo o tumor foi retirado. Então eu posso com esses dados estadiar a lesão. Por serem tumores com menos de 3 cm, sem metástase nos linfonodos regionais ou metástase distante (p. ex. pulmão), o prognóstico é melhor, considerado Estádio 1 (de 1 a 5).
A quimioterapia ainda está em discussão, estudos ainda devem ser feitos para avaliar a real colaboração da mesma. Já foram realizados estudos com ciclofosfalmida e 5-fluorouracil, dentre outros. Radioterapia pode ser útil para tratamento de tumores muito grandes para cirurgia. O assunto é MUITO VASTO. Prometo fazer um post depois sobre isso. Mas a realidade é: o tratamento de escolha é a cirurgia. E ela também vai colaborar para a mais importante ferramenta diagnóstica, o exame histopatológico. Eu já me cansei de atender cadelas que sofreram uma excisão de tumor no passado, sem exame histopatológico e com rescindiva da lesão e o proprietário querendo respostas que o exame histopatológico da primeira lesão teria respondido, como tipo do tumor, se as margens da amostra estavam livres de lesão, dentre outras.

meu gatinho está com dificuldades de urinar,fizemos exame de urina e ñ há presença de proteínas,apenas um pouco de sangue,estávamos medicando-o com azicox-2 50mg,mercepton por uma semana,e ele ainda urina com dificuldade,gotejando,o que pode ser?
O veterinário que está atendendo fez essas prescrições? Ele está sendo tratado com antibiótico, antiinflamatório e vitamina. A presença de proteína pode indicar lesão renal, porém sangue na urina também pode elevar a proteína.
Esses sintomas podem ser por obstrução por cálculo, pode ser somente uma cistite (que o animal urina pouco várias vezes). Leve-o de volta ao veterinário que está tratando e relate o que está acontecendo, a depender da suspeita dele, o quadro já deveria ter mudado, certamente ele encontrará a solução. Somente com essas informações que você está me passando não é possível fazer uma ampla lista de diagnósticos diferenciais. Não foram visualizados cristais na urina? Qual o pH?
Dê notícias (e se identifique por favor)
Bj

Olá Alice, é a sofia de novo! ahusaihs ja estou abusando disso aqui! uma perguntinha, Qual é a melhor idade para castrar um gato?
Estou castrando o meu aqui aos 5 meses. Alguns profisionais esperam a puberdade, aos 8-9 meses, outros castram aos 4-6 meses com a justificativa que o hormônio sexual não inibirá mais o hormônio do crescimento e o animal cresce mais. E vou castrar porque ele está querendo cruzar com a irmã. Em seguida será ela.
Bj

Oi Alice, tudo certo? Espero que sim! :) Lendo a questão anterior, sobre castração em gatos, o mesmo vale para cães? Crescem mais quando castrados antes? Podem desenvolver algum problema? A idade ideal para você seria qual? Grata! Mariana/São Paulo
Mariana, tudo excelente, ehehe. Bom, já foram feitos estudos sobre o crescimento do macho e não foi encontrada relação significaiva com castração precoce, tanto em cães quanto em gatos, no entanto muita coisa ainda precisa ser estudada. Eu sempre optei por esperar a puberdade para castrar o cão macho, porém há evidências da castração precoce, anterior a esta fase. Eu vou fazer um post sobre castração precoce em cães e gatos machos para falar sobre as vantagens e desvantagens.
Bj e obrigada pela pergunta

Alice, qual o animal mais estranho q vc já atendeu? Como foi?
Já atendi muitos cães alienígenas mas não acredito que a pergunta seja nesse sentido. Bom, como a nossa clínica era a única com Oxigênio aqui na região, já atendemos uma arara com dipnéia (respiração irregular). Era macho, chamava-se Araro, e a veterinária que o trouxe suspeitava de intoxicação. Infelizmente o araro morreu. Mas o animal mais estranho, não por ser, mas pela sensação que eu tive quando o atendi, foi um mico, que também foi intoxicado e chegou com uma agústia respiratória tremenda. Eu não tinha uma máscara do tamanho dele, então peguei a mangueira do oxigênio e coloquei dentro de uma caixa plástica, com ele dentro. Ele então segurou a mangueira com as duas mãozinhas, levou até o nariz e ficou respirando. Não foi um animal estranho mas uma sensação estranha eu tive, atendendo um primata.

Alice, o que pensa a respeito do exame de certificação profissional, que os recém formados tem obrigação de realizar e que está sendo questionado na justiça? Você acha que com isso, irá acabar, ou pelo menos diminuir, os maus profissionais? J
Não acho que vá diminuir os profissionais ruins porque geralmente esses saem como os outros da universidade e vão se tornando assim pela falta de atualização, algum distúrbio de caráter, etc. Por outro lado um bom profissional se forma com a prática, o estudo e a cooperação com colegas.
Com relação ao exame de certificação profissional eu acho necessário sim, e deveria ter o mesmo grau de dificuldade que um exame de ordem, por exemplo. Creio que muitas pessoas não concordam comigo, e é natural, eu tendo a ser radical nesse sentido. TODO profissional deve estar preparado e esse exame deve ser elaborado de forma que avalie isso. Para você ter uma idéia, se hoje você quiser ter licença para trabalhar em algum estado dos EUA você deve fazer um teste, que pode envolver 3 meses de estágio e testes nas mais diversas áreas de uma instituição veterinária ou 3 dias de provas teóricas (e práticas?) sobre os mais diversos assuntos na veterinária. E por que isso? Porque eles não podem avaliar se um profissional que veio do exterior teve a formação ideal que a licença para atuar em veterinária naquele estado exige. Não é exatemente disso que estamos tratando pois estamos no mesmo país mas serve o exemplo que esse teste vai avaliar a preparação daquele profissional no objetivo de certificá-lo apto para o exercício da profissão.
Abraços

Alice,uma dúvida de um leigo na área...estuda-se muita Matemática na Medicina Veterinária? Carlos-São José dos Pinhais/PR
Depende da grade curricular, na universidade que eu cursei fazíamos Cálculo 1. Agora uma matéria mais específica que envolve cálculos é a estatítica, básica e experimental, vale a pena aprender. Me "bati" muito com isso na análise de dados da minha tese.
Abs

Oi!! Quais as vantagens da castração em cadelas? Nossa pepezinha, creio eu, nunca irá cruzar. Por isso pergunto, há alguma vantagem nesse procedimento? Alguma coisa muda? by alineepi
Aline querida, olá
Bom, as vantagens são:
- Não haverá gestação indesejável, bem como acometimento de doenças sexualmente transmissíveis, como o TVTc (Tumor Venéreo Transmissível Canino)
- O animal não entra no cio evitando todas as inconveniências do mesmo, como sujar o apartamento, perseguição nos passeios
- Efeito protetor contra neoplasias mamárias, até certa idade.
- Não há o desenvolvimento de piometra, que é uma infecção uterina que acomete cadelas de meia idade.
Leia mais sobre o efeito protetor da castração em:

Beijos

Oi,Dra.Alice!quero dizer q sou apaixona pelo seu blog e sua por sua profissao. Tenho um shihtzu (Miguel)c/16 meses e estou com uma duvida:Percebi q quando o xixi dele é absorvido pelo jornal aparece uns brilhos q parece cristais.o q poderia ser?é narma
Obrigada por acompanhar o blog, fico muito feliz. Bom, eu nunca vi a urina de um animal com litíase (cálculos e/ou cristais na urina) absorvido no jornal para saber a aparência. Acredito que não seja nada, porém relate isso para o vet dele na próxima consulta. Bj


Alice, bom dia Meu nome é fernanda, e postei um comentário no seu blog recentemente (no seu post da tattoo do tigre) e eu queria saber se uma pessoa tatuada consegue se tornar veterinária. by Ihavechoices
A tatuagem hoje em dia é muito mais comum do que já foi um dia. O preconceito ainda existe, eu fiz as minhas já depois de formada e em locais onde eu posso esconder se quiser, mas foi OPÇÃO minha. Vai depender muito da área que você vai trabalhar. Por exemplo: eu tenho a minha clínica e a tatuagem das costas eventualmente aparece, paciência. Algumas pessoas a´te comentam por ser um gato. Já no frigorífico que eu trabalho as tatuagens não aparecem mesmo por causa da roupa, porém o dono do frigorífico é preconceituoso, nesse sentido. Ele até sabe que eu tenho mas não sabe o que é e nem aonde, também não levanto essa questão.

Se você for trabalhar de residente ou estágio em algum lugar público, um hospital em uma faculdade por exemplo, pode existir, porém provavelmente você vai conhecer as pessoas ali há muito tempo que esse lance de preconceito deixou de ser um problema muito tempo antes.

Bom, o que eu quero dizer é que eu não enfrento esse problema e não acredito que você enfrentar.

Obrigada por visitar o blog.


Quem é a pessoa mais bonita que você conhece?
A minha mãe, e você?