Na véspera do meu aniversário em 2007 eu recebi uma notícia ruim. Uma pessoa havia deixado recados muito mau educados no meu orkut. Me chamando de açougueira, chamando a minha clínica de açougue Casa do Bicho, dizendo que eu matei o cachorro dele, me ameaçando, e outras coisas mais. Eu fiz "printscreen" de tudo, entrei no MSN para saber do que se tratava e a história era a seguinte:
O cachorro do rapaz havia doado sangue para dois pacientes da clínica em julho e agosto de 2006, quando em julho de 2007 ele adoeceu, a veterinária dele fez vários exames e sem fechar o diagnóstico, disse que o animal havia ficado doente por causa das duas doações de sangue. Além disso outro veterinário oportunista apoiou a idéia da "doação de sangue deletéria" e ainda disse que eu vendia o sangue. O rapaz ficou transtornado. Me ameaçou e tudo mais.
Agora, antes, me deixe falar um pouco sobre transfusão sanguínea, de acordo com a literatura, um animal pode doar cerca de 16 a 18 ml de sangue por quilo, a cada 3 a 4 semanas. Esse animal doou cerca de 8ml por quilo em cada transfusão e um intervalo de 4 semanas entre elas. Resumindo, ele era saudável e poderia doar até o dobro do que ele doou. Não existe essa doença que vai afetar o animais 12 meses após a transfusão, ele teria que estar muito doente na época da doação para ser prejudicado por ela, e mesmo assim não seria um ano depois.
Mas nenhum cliente tem obrigação de saber disso, o veterinário sim. Voltando no ponto da falta de diagnóstico, agora existem até doenças inventadas, tudo para não assumir o fato de não saber do que se trata e nem buscar ajuda.
Eu fui muito prejudicada pela informação errônea desses dois colegas, não vou nem falar de ética porque ética se trata de algo muito pessoal. Precisei ficar com a segurança na porta da clínica por uma semana, mantive todas as ameaças salvas para ir à polícia caso necessário, sem contar que chorei o dia todo do meu aniversário.
Quando se assume a posição de profissional, as pessoas acreditam no que você fala, elas respeitam a sua opinião e se seu animal estiver morrendo e você colocar a culpa em um veterinário que o atendeu há um ano, para uma DOAÇÃO de sangue, o cliente vai acreditar, ele precisa de alguém para colocar a culpa.
Não sei se o animal morreu, antes dessa confusão toda, esse cão fez uma ultra-sonografia comigo que revelou aumento de baço, edema testicular, combinado à anemia poderia ser um parasita no sangue, como acontece na "doença do carrapato"... mas foi mais cômodo culpar a doação de sangue. Até meu laudo foi questionado e ridicularizado online. Eu não preciso dizer como eu me senti, sendo chamada de mercenária, queria o sangue do cachorro para vender.
Depois eu mandei um email para o rapaz, com artigos científicos falando sobre transfusão e agradecendo as doações em nome dos animais que receberam.
Ao amigo proprietário de cães: se seu animal puder salvar a vida de algum outro doando sangue, deixe, o veterinário não o fará se o seu animal não tiver condição. Confie!!
Ao colega veterinário, tudo que você fala tem efeito. Não critique o colega para o cliente, se for algo grave, vá ao conselho, converse com o colega, mas não denigra a imagem do outro profissional
Recomendo a Comunidade do Orkut: Veterinário Defende Veterinário
Recomendo (somente para profissionais) a Comunidade do Orkut: Sou VET, Não São Francisco
Recomendo a leitura do Código de Ética da Classe Veterinária
Recomento a leitura de informações sobre transfusão sanguínea em cães
Não se esqueça de seguir o blog, por Seguidores ou FEED.
3 comentários:
realmente ética profissional hoje em dia é uma coisa pessoal, mas não devia ser, devia ser algo ensinado como uma cadeira extra na universidade. Espero que tudo se tenha resolvido da melhor forma, muito informativa a parte da doação de sangue.
Parabéns pelo post. Vc tem TODA razão.
Parabéns pelo blog! Atuo em outa área de saúde, a humana. Infelizmente sempre teremos profissionais falando mal de colegas para pacientes/clientes. São pessoas que querem se sobressair a todo custo. Eu sempre me ative a somente diagnosticar e explicar o tratamento, mesmo quando detectava erros grosseiros anteriores. No meu curso, a cadeira de ética fazia parte do currículo e muitos colegas perguntavam o motivo dela existir. O teu relato mostra um exemplo da falta dela. Muito chato isso que aconteceu contigo.
Postar um comentário