Quando eu era criança eu achava que me tornaria o adulto mais legal do mundo. Eu detestava adultos chatos, implicantes. Eu acho que fiquei chata.
Depois que eu passei outros dez dias no hospital com meu pai, em Outubro de 2005, os enfermeiros me chamaram 'esquentadinha'. Eu estava pior do que o cliente mais chato, desesperado e chorão. Criei empatia por esse cliente. Pensei muito nas minhas atitudes na posição de quem cuida, na paciência com o paciente, no carinho e na sinceridade. Às vezes eu me aborrecia no hospital quando perdiam a paciência com o papai, mas acompanhei muitos gestos de carinho e compreensão também.
Ele sentia muitas dores, às vezes durante confusão mental ele queria tirar a sonda nasogástrica, o soro. Quando eu cheguei em Brasília, no hospital, o meu pai estava amarrado. À medida que os dias foram passando ele recebeu muito carinho e foi melhorando a condição física e a consciência.
Foram dez dias muito importantes para o nosso relacionamento. Conversamos, eu toquei violão, ele me contou várias coisas das quais se arrependeu, recitamos suas poesias, dormíamos conversando, ele me acordou uma noite de madrugada para pegar seu boné e os óculos escuros, eu peguei e ele ficou usando até amanhecer, as enfermeiras entravam e falavam: mas tá bonito heim Seu Júlio!
e ele agradecia: bondade de vocês... muito obrigado!
Eu perguntei se ele sentia falta do meu avô, que havia morrido naquele ano, em 04/01/2005.
Ele me respondeu que sentia falta dele todos os dias.
Aprendi a conhecê-lo melhor: ele era bohemio, gaiato, inteligente, rápido, carismático, passional, triste, hipomaníaco e responsável... era o meu pai. Foi a última vez que eu o vi com vida. Eu voltei para casa. Ele teve alta e foi viver com a irmã, minha tia, que o acolheu com muito amor. Ele foi para a UTI duas vezes. Da segunda vez, em 31/12/2005, o meu irmão foi visitá-lo e foi a última vez que o viu consciente. Ele perguntou para meu irmão:
"Carlos, você vai passar o reveillon aonde?"
"Ainda não sei pai, talvez com uns amigos!"
Então ele disse para meu irmão: "Ah, eu acho que vou ficar aqui pela UTI mesmo, vai ter uma rodada de champagne à meia noite".
Ele entrou em coma no dia seguinte e faleceu em 04/01/2006. Eu pude prestar as minhas homenagens e me despedir. Contamos algumas piadas no velório, com certeza ele curtiu.
Eu sinto falta dele todos os dias!
OBS: Meu avô morreu em 04/01/2005, meu pai em 04/01/2006; nem preciso dizer que meu irmão passou medo em 04/01/2007!!!
"Eu não quero um céu de estrelas o ano inteiro, mas que cada um seja o primeiro a estrelar o seu próprio céu. Eu não quero que só haja amor no mundo mas que sempre cale fundo ao ver o irmão sofrer. O homem que pensa que tudo sabe erra ao pensar que lhe cabe ser homem e Deus também. Na guerra cada povo que se mata não entende que lhe falta motivo para viver, mas é aí que falha a humanidade, pois não tem finalidade, quando pensa que a tem. Eu não quero um céu de estrelas, ou só bem, mas que o homem viva sem imaginar que tudo tem."
Júlio Geraldes de Oliveira Lima (in memorian)
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5 comentários:
Fiquei com muita saudade do seu pai... não conseguia parar de chorar...(aquele fofoqueiro grava a hora que a gente escreve? google analitycs??)... ele foi o homem que amei e ainda o amo através de vocês... a mistura foi muito boa na criação dessas duas pessoas que me surpreendem a cada momento.
Amo muito vocês, meus filhos!
beijos
mamãe
eita xorôrô danado...
hmm, as vezes me pego pensando... será que abriram o champagne naquele reveillon?
Pai.. uma simples palavra,mas com um significado tão grande q não conseguimos mensurar.Faz falta, muita.mas a lembrança dos maravilhosos momentos ficam sempre guardados na memória.
Te amo amiga..
bjsss
eu sinto falta dele todos os dias...
Rpz... chorei. Chorei ao vivenciar, através do seu relato, esta história que me fez refletir sobre inúmeras coisas...
Alice, acho q nunca te agradeci por me permitir compartilhar deste blog.
Muito obrigado!
Vc é surpreendente!
Bjos e Sucesso
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